A Galeria Invisível
Rodrigo Suzuki Cintra
Para minha querida Allegra, pois seu papai, com amor e muito carinho, deseja que sonhe sempre o impossível.
Para mim não existe diferença entre o
sonho e a realidade. Eu não sei nunca se o que faço é produto do sonho ou do
estado despertado.
Man Ray
É preciso ter uma ideia do que se irá fazer. Mas deve ser uma vaga ideia. Picasso
Loucura sim, mas tem seu método
Hamlet, Shakespeare
Existe um gênero literário clássico, uma
antiga técnica grega, chamado ekphrasis,
para muitos uma forma morta, que consiste em descrever uma obra de arte com a
maior exatidão possível, de modo a tornar factível a quem nunca a viu
efetivamente poder enxergá-la com os olhos da alma, como se estivesse bem na
sua frente. Há, nessa forma, um exagero de cálculo na descrição. Tratei de
compor os textos deste livro, que no fundo é um apanhado de fragmentos,
influenciado por essa maneira, se bem que por vezes me arrisque a narrar
histórias possíveis ou dissertar livremente sobre o valor de alguma obra
específica. Por se tratar exclusivamente de fragmentos que partem de ekphrasis de obras dadaístas e
surrealistas, conforme escolhi, certamente a lógica do real, imperativo típico
dos homens sem imaginação, cede a um modo de contemplação e composição um pouco
mais fantasioso e particular. Por certo que as descrições, as criações e as
argumentações que partem desses tipos de obras jamais poderiam ser fiéis
completamente se, de algum modo, não fossem ligeiramente malcriadas e não
estivessem no limiar entre razão e emoção, precisão e irreverência, sonho e
realidade.
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