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quarta-feira, 17 de agosto de 2022

E-mail

 

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Clandestino num crepúsculo, sonhei carinho. 

Aquele lance não precisa ser uma mais mágoa.

Queria mandar piscadela, ao meio da minha loucura de tigre.

Fiz merda no tempo, lógico.

Nesse agora, percebo o ontem.

Mas, pretendo colorir o sentimento.

Mandar um quê: de afago!

Saber do por aí...

O papo do se você vai bem...

- Aqui tudo ainda matemática...

Você bem me sabe.

O de sempre cálculo do entretanto.

Na madrugada, vagabundeando no escuro,

lembrei de você quando encontrei uma estrela perdida no bolso. 

Senti um quero quero de dentro.

Que iluminou um te ver de novo – do jeito do assobio

distraído de peito.

Dançar uma vontade juntos.

E inventar planinhos improváveis: mirando galáxias.

            *                                 *                      *         

*                                 *

            *                                                         *

Na sombra do escuro, peripatético,

aprendi que uma qualquer noite:

é uma noite.

Pode ser depois da décima oitava lua.

Ou antes daquele acorde.

Encantei um encontro na esquina do pressentimento

com alameda da possibilidade...

O horário: quando o ponteiro do crime

badalar sete razões para sonhar.

(E se eu resolver ir de chapéu,

você promete usar aquele vestido?)

Vou estar lá insano, indecente.

Um astro cadente no bolso, um presente

para você fazer um pedido que te dê insônia.

E terei na boca de promessa

todas as chances de cometa.

Estarei lá, pontualmente, para sempre.

Mesmo que você decida simplesmente –

não aparecer.


******************************* 

 

Beijo de beijo desencontrado nos olhos lindos,

do tipo que pode funcionar, num repente, porque a gente não espera,

receber mais que um logo em cima do outro...

 

Beijo!

 

Eu.

sábado, 13 de agosto de 2022

Um Sonho dentro de um Sonho - E. A. Poe (Tradução)

 

Um sonho dentro de um sonho

                                   Edgar Allan Poe

 

Receba este beijo em tua fronte!

Partirei rumo a um novo horizonte,

Mas confesso: olhos nos olhos defronte –

Não erra quem proclama que disponho

Os meus dias como se fossem um sonho;

Se a esperança não tem mais serventia,

Seja de noite ou mesmo de dia,

Uma visão real ou talvez nenhuma,

Será que tudo não passa de bruma?

Tudo que vejo, sou ou suponho

É apenas um sonho dentro de um sonho.

 

Fico parado como que perdido

Em uma praia qualquer sem sentido,

E seguro firme dentro da mão

Um punhado de areia que peguei do chão –

Poucos grãos! Ainda assim, me atormento

Pois pelos dedos fogem, não tenho alento,

Enquanto lamento – enquanto lamento!

Oh Deus! Será que não consigo conter

Nem um único pedrisco sem sofrer?

Oh Deus! Será que não consigo salvar

Um ao menos da fúria do mar?

Será que tudo que vejo, sou ou suponho

É apenas um sonho dentro de um sonho?

 


 

A dream within a dream

                        Edgar Allan Poe

 

Take this kiss upon the brow!

And, in parting from you now,

Thus much let me avow –

You are not wrong, who deem

That my days have been a dream;

Yet if hope has flown away

In a night, or in a day,

In a vision, or in none,

Is it therefore the less gone?

All that we see or seem

Is but a dream within a dream.

 

I stand amid the roar

Of a surf-tormented shore,

And I hold within my hand

Grains of the golden sand –

How few! yet how they creep

Through my fingers to the deep,

While I weep – while I weep!

O God! can I not grasp

Them with a tighter clasp?

O God! can I not save

One from the pitiless wave?

Is all that we see or seem

But a dream within a dream?

 


Geometrias de Cosmos

 

Nas geometrias de cosmos

não há harmonia dos astros

nem estrutura misteriosa

de ordenação das pequenas coisas

 

tudo é um compasso

de relâmpago

um estouro repente de luz

na brevidade

do escuro do profundo

 

a pele não tem sentido

de tempo

que não seja delicadeza

 

uma história não começa

no espaço

antes de ser saudade

 

toda a pintura é ainda

mais dor

pela tonalidade do indefinido

 

os instantes teimam

um infinito

no silêncio do quase

 

e estou apaixonado

por alguém

pelo talvez das possibilidades

 

Nunca olho para as estrelas de madrugada

tenho o firmamento dentro de mim

domingo, 10 de outubro de 2021

 

O Oscilador de Formatos de Nuvens

 

E entre a base e o ocular, a semi-lente de engano finge também não ser feita de nebulosa.

 

Mede as bordas das quase-arestas, pontas indecisas sempre [desagudas]: o Oscilador capta e calcula instantes pelas margens das manchas. Função de detectar antes o que virá depois – formatos duram na temporalidade própria [do talvez]. Certa nuvem branca sugere a imagem e o observador de ocasião faz a hipótese indubitável sobre a girafa perfeita, evidente, completamente visível na formação branca – todo desrespeito ao azul infinito dura apenas a visão momentânea de um pescoço longo e quatro patas.

Existe uma floresta possível no céu.

Já conheci quem jurasse que um bicho se transforma em outro, ali nas alturas, com a mesma facilidade que se alternam nos passeios por alamedas de zoológico.

Um gostar mais dessas pessoas, às vezes me ocorre.

Índices de cidades grandes demais com seus símbolos de modernidade, sujeira e incomunicabilidade são perceptíveis: Osciladores captam carros, edifícios e mendigos ao chão com mais frequência [que pianos].

Nunca soube de alguém que determinasse uma clave de sol ao olhar para o céu. Mas, já sonhei com borrões claros que dançavam graciosamente sob o ritmo do fechar de olhos.

Eu sou bom de piscadela porque pisco de propósito.

E nessa brevidade em que o olho titubeia que

lembro do meu nome:

M. Lovet.

É ali no quando dos elementos que tudo fica escuro demais, e pode ser que o estrondo da natureza nos recoloque em conexão com um silêncio feito de medo -, entre episódios de pausa, nuvens carregadas de cinza provam a superioridade da natureza. E as formas sempre voltam ao branco:

não me sinto mal em nunca pensar em música sem inventar [um compasso]

O Oscilador só está pronto quando o mastro triangular começa a girar em volta de si mesmo. Ao captar os formatos de nuvens, sugere no painel em forma de flor as próximas formas de nebulosa.

Gosto de olhar para a flor de máquina porque ela lembra uma mãe caprichosa em dia de domingo. Antes do almoço ela me deu bronca, mas a culpa era do meu primo.

O Oscilador de Formatos de Nuvens é um instrumento de possibilidades.

Composto de lentes, no fundo, ele é feito do tempo da sugestão: os mais imaginativos dos homens levam vantagem ao usar esse objeto de medição. Sonhar mais solto é privilégio; nuvens não são feitas de nitidez. O estatuto de borrão dessas branquitudes preenche significados nos sonhos de olhos abertos. [E tinha aquela história do especialista em Osciladores...]. Enxergava as hipóteses do depois do momento do agora das nuvens com tanta clareza –, parecia até que comandava nuvens a se transformar. Aquela técnica de criar coisas a partir de coisas.

E eu o chamava de Metáfora.

Ele gostava de chuva.

Como instrumento sujeito às calibrações do olhar, a precisão do Oscilador de Formatos de Nuvens depende também de treino. Com o tempo, se percebe o truque mais elementar das nuvens. Eu prefiro ainda guardar no bolso direito da calça, o espaço em que controlo mistérios – Sentimentos! – a matéria prima de que são feitas as manchas do céu. Estão nas alturas por isso.

Sereias brancas significam perigo como violões não passam de fogueiras nas paixões inventadas nos luaus na madrugada de areia na praia.

Uma fumaça que não é nuvem me fez lembrar, agora, de quando eu não era feito de tempo.

No vai e vem de se transformar das nuvens, quando uma ideia começa a querer ser outra, já vi muita saudade, e também ambição. Uma vez percebi de relance entre um amor e um ódio, algo que não estava ali, nem aqui, o princípio do formato do desprezo. Uma forma de medo, um tremor de corpo incontrolável: mas, podia ser só uma imaginação mais doentia. Foi quando resolvi fingir que era só um remorso levemente sugerido. Brancura indecisa entre o rosáceo e o gris.

Uma terceira bocada no sorvete me fez ser um homem melhor.

Na calçada resolvi descalçar o chinelo, não sabia de que lado ficava a praça, então recalibrei meu Oscilador, olhei para o azul do oceano às avessas lá em cima,

dancei por 4’33’’ uns passos de tango sozinho

[sempre com as mãos nos bolsos e sem fazer um único movimento] e enxerguei nitidamente um tigre.

sábado, 26 de outubro de 2019

Dois Poemas de "Geometrias de Cosmos", livro de Rodrigo Suzuki Cintra




Dois poemas de Rodrigo Suzuki Cintra

ainda assim
arriscar um poema que não
seja cálculo
que a forma
fosse subtraída
como em um assalto
de próposito
só impulso
de pensamento
um fluxo
de algo que surge
como o que é inexplicável
meio sem querer
todo desejo
de escrever poesia
sem tempo ou espaço
é cartada sem curinga
como um blefe
de caso pensado
em todo verso
existe a necessidade
de morte
das ideias que surgem
como do nada
oportunamente
apenas aquilo que é
espontâneo
se destaca se o caso for separar
de si toda forma de eu
como um bilhete de suicida.

réquiem para um poeta vivo[1]
para Tico.
Poeta, coveiro, suicida: homem.


Embora palavras
não passem
de nuvens
ainda que
formatos indeterminados
do imaginário
discordem tolos
teimam contornos
meramente sugestivos
fugidios da
primeira arquitetura
*
dos símbolos

também agulhas
 podem ser
 pois picam
alfinetam juízo
coçam por
dentro a
tragédia infinita
anunciado assassinato
no texto
difícil do
golpe arriscado
*
da escrita

talvez lápides
obras invisíveis
mas sempre
vermelhas como
vírgulas suicidas
do mergulho
do ferrão
certa loucura
mistura nariz
de palhaço
no veneno
*
de escorpião

pudera conceitos
dessem conta
enquanto letras
que enterram
a música
interna do
sentimento quando
silêncio um
grito pressentido
acorde final
ferroada poética
*
de marimbondo

naqueles signos
construções narrativas
onde veículos
fatais se
movem sempre
ou nunca
via contramão
o caso
daquele homem
argumento de
si mesmo
*
do não

nas imagens
sempre algo
de morte
estrutura a
nebulosa arte
do sonho
ressignifica mundo
num blefe
o último
da forma
dialética
*
de vagabundo




[1] [1] Esse poema foi escrito como crítica cinematográfica ao filme “Ferroada” de direção de Adriana Barbosa e Bruno Mello Castanho.





domingo, 3 de março de 2019

Tradução: Poema de E. A. Poe



Um sonho dentro de um sonho
                                   Poema: E. A. Poe
                                   Tradução: Rodrigo Suzuki 





Receba este beijo em tua fronte!
Partirei rumo a um novo horizonte,
Mas confesso: olhos nos olhos defronte –
Não erra quem proclama que disponho
Os meus dias como se fossem um sonho;
Se a esperança não tem mais serventia,
Seja de noite ou mesmo de dia,
Uma visão real ou talvez nenhuma,
Será que tudo não passa de bruma?
Tudo que vejo, sou ou suponho
É apenas um sonho dentro de um sonho.

Fico parado como que perdido
Em uma praia qualquer sem sentido,
E seguro firme dentro da mão
Um punhado de areia que peguei do chão –
Poucos grãos! Ainda assim, me atormento
Pois pelos dedos fogem, não tenho alento,
Enquanto lamento – enquanto lamento!
Oh Deus! Será que não consigo conter
Nem um único pedrisco sem sofrer?
Oh Deus! Será que não consigo salvar
Um ao menos da fúria do mar?
Será que tudo que vejo, sou ou suponho
É apenas um sonho dentro de um sonho?




A dream within a dream
                        Edgar Allan Poe

Take this kiss upon the brow!
And, in parting from you now,
Thus much let me avow –
You are not wrong, who deem
That my days have been a dream;
Yet if hope has flown away
In a night, or in a day,
In a vision, or in none,
Is it therefore the less gone?
All that we see or seem
Is but a dream within a dream.

I stand amid the roar
Of a surf-tormented shore,
And I hold within my hand
Grains of the golden sand –
How few! yet how they creep
Through my fingers to the deep,
While I weep – while I weep!
O God! can I not grasp
Them with a tighter clasp?
O God! can I not save
One from the pitiless wave?
Is all that we see or seem
But a dream within a dream?



segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Tradução - Poema de W. B. Yeats

When you are old
W. B. Yeats

When you are old and grey and full of sleep,
And nodding by the fire, take down this book,
And slowly read, and dream of the soft look
Your eyes had once, and of their shadows deep;

How many loved your moments of glad grace,
And loved your beauty with love false or true,
But one man loved the pilgrim soul in you,
And loved the sorrows of your changing face;

And bending down beside the glowing bars,
Murmur, a little sadly, how Love fled
And paced upon the mountains overhead
And hid his face amid a crowd of stars.



Quando velha
Tradução: Rodrigo Suzuki Cintra

Quando velha e grisalha e cheia de sono,
E cochilando ao fogo, resolver esse livro pegar,
Lendo-o lentamente, sonhando com o doce olhar
Que costumavas ter, com suas sombras de abandono;

Quantos amaram teus momentos de imensa graça,
E amaram, de verdade ou não, tua beleza,
Mas apenas um homem amou tua tristeza,
E amou os sofrimentos de tua face em mudança;

E ao dobrar-te sobre as brasas para vê-las,
Murmurar, quase infeliz, como voou o amor radiante,
Passou por cima das montanhas logo adiante,
E escondeu sua face ao meio de um milhão de estrelas.


sábado, 1 de julho de 2017

réquiem para um poeta vivo


Decidi escrever sobre o filme “Ferroada” (2016) de Adriana Barbosa e Bruno Mello Castanho. Não pensei em escrever sobre o filme após ter assistido. Era enquanto assistia, no meio da platéia do cinema, que minha imaginação se movimentava. O filme é sobre um poeta, um coveiro: um homem. Comecei por tentar escrever uma crítica formal, bem cortada, elogiosa. Desisti. Resolvi escrever uma crítica ao filme via poesia. Achei que era uma forma de respeito, de certa maneira, ao próprio personagem principal. Também, é claro, aos cortes da montagem dos diretores. Pode acontecer, às vezes, de uma forma de arte impulsionar outra. Se o filme sobre o Tico saiu de sua literatura indo parar nas telas, agora, devolvo imagens em letras. Mas, faço isso a meu modo: com cortes que emendam as imagens… no mundo da vida.  
réquiem para um poeta vivo

para Tico


embora palavras

não passem

de nuvens

ainda que

formatos indeterminados

do imaginário

discordem tolos

teimando contornos

meramente sugestivos

fugidios da

primeira arquitetura

*

dos símbolos


também agulhas

 podem ser

 pois picam

alfinetam juízo

coçam por

dentro a

tragédia infinita

anunciado assassinato

no texto

difícil do

golpe arriscado

*

da escrita


talvez lápides

obras invisíveis

mas sempre

vermelhas como

virgulas suicidas

do mergulho

do ferrão

certa loucura

mistura nariz

de palhaço

no veneno

*

de escorpião


pudera conceitos

dessem conta

enquanto letras

que enterram

a música

interna do

sentimento quando

silêncio um

grito pressentido

acorde final

ferroada poética

*

de marimbondo


naqueles signos

construções narrativas

onde veículos

fatais se

movem sempre

ou nunca

via contramão

o caso

daquele homem

argumento de

si mesmo

*

do não


nas imagens

sempre algo

de morte

estrutura a

nebulosa arte

do sonho

ressignifica mundo

num blefe

o último

da forma

dialética

*

de vagabundo




Esse poema foi publicado na Revista Zagaia, em junho de 2017.