Mostrando postagens com marcador Poesia. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Poesia. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 20 de junho de 2017

A urbe poética de Régis Bonvicino – notas sobre "Beyond the wall"


é um artista se entregando para a polícia
“Arte” de Régis Bonvicino

Quem se dispõe a percorrer a nova coletânea de poemas de Régis Bonvicino, Beyond the wall (Além do muro) recém publicada pela editora Green Integer nos EUA, deve estar preparado para enfrentar uma complexa trama em que o estatuto da arte, a vida na cidade e a política em ponto de bala se entrelaçam de uma maneira absolutamente inextricável, de modo que é praticamente impossível uma dissociação dos elementos dessa poética – existe algo de irredutível na obra que impede os esquemas mais tradicionais de interpretação de livros de poesias. Não é o caso, então, de tentar localizar quais são os poemas de uma ordem metalinguística mais evidente ou os que apresentam imagens da cidade ou mesmo os que discutem relações de poder. As poesias de Beyond the wall operam nas bordas, nos limites em que um tema já se transforma em outro, mas ainda não deixa de ser o que era.

Existe uma verdadeira topografia poética, um modo pelo qual os poemas foram estrategicamente colocados em sua sequência, que causa a perfeita percepção de que o livro tem um espaço próprio de acontecimento: a cidade.

O terreno em que as poesias são colocadas é o espaço urbano. Só que a cidade de Régis Bonvicino não é composta de prédios, janelas, casas e lojas. O lugar de que fala e de onde fala o poeta é feito de mendigos, ratos, garrafas, urina e cigarros. Não é uma cidade específica, tampouco. Pode ser Le monde, Bank of China, Chascona, Passeig de Gràcia, New York ou Bom Retiro. De qualquer modo: é uma poética urbana.  

Se as metrópoles são o espaço da desigualdade evidente, Régis constrói suas imagens-sons de uma maneira particular. Uma técnica de construção de linguagem por contradição, talvez mesmo, por atrito. Não há nada de um lirismo coerente, de uma poesia sem arestas. De vez em quando, falta uma rima, outras vezes, um paralelismo é subtraído, uma ideia não se completa, uma imagem é sequestrada. De caso pensado, Régis Bonvicino faz poesia com ângulos, dobras, conflitos, inversões e paradoxos.

O poeta escreve com cálculo: está tudo resolvido no espaço da página. Porém, algo sempre sobra e parece escapar da prisão do texto e golpear os sentidos do leitor. A “urina” realmente fede, o “mendigo” implacavelmente incomoda e, quase imperceptivelmente olhamos para os cantos da sala a procura dos “ratos”. Um modo de fazer poesia que contamina as palavras e é contaminado por elas. O cálculo poético parece nos surpreender vez ou outra e somos pegos a levantar a cabeça, deixar o texto, e parar para pensar o que está acontecendo. Nessas vezes, invariavelmente, quando voltamos ao texto, relemos alguma passagem anterior, folheamos o livro e retornamos a alguma poesia que, de repente, merece melhor apreciação. Não se trata de um livro de poemas para ler do começo ao fim sem interrupções.

Essas interrupções são verdadeiros engasgos, nos pegam de surpresa e provocam uma sensação estranha – às vezes colocamos até um sorriso na boca, tudo aparenta correr bem na leitura, mas, logo adiante, percebemos a verdade que essa poética provoca: o sorriso se transforma em riso nervoso. Trata-se de um tipo de poesia que é necessária, poesia-incomodo, bem diferente dos esquemas fáceis das poesias da moda. Pode-se dizer, inclusive, que nos seus ângulos, sinuosidades e esquivas é um livro que respeita plenamente o leitor. Mas, que assim o faz somente na exata medida em que exige mais da leitura.

Analisemos duas poesias da coletânea: a primeira e a última – para fazer uma moldura do que pode ser encontrado entre esses dois muros.

Com o título de “Arte”, a poesia de abertura não poderia ser mais irônica. Como falar da arte nos tempos atuais em que a barbárie cultural impera de maneira triunfante? Como fazer arte em tempos de mass media? A provocação que o título da poesia de abertura do livro faz é absolutamente pertinente. Mas, o poeta escreve ao longo da poesia, em uma sucessão de imagens, exatamente aquilo que não se poderia esperar da arte. Como se ela tivesse perdido o sentido nos tempos atuais. É assim que constrói os versos: [arte] “é o mendigo que, mão aberta,/não pede esmola”. A contradição é evidente e perturba não apenas a leitura que procura coerências, mas a própria estrutura da linguagem que se propõe. A certo momento desse primeiro poema chega até mesmo a propor: [arte] “é um relógio sobre uma lápide”. Nada mais contundente do que declarar a morte da arte e, apesar disso, via imagem certeira, reafirmar a arte, mesmo que às avessas.

Na última poesia da coletânea, “Abstract (2)”, podemos ler um verso que quase inviabiliza o título do livro: “Visitors: no trespassing”. Assim colocada a impossibilidade de ultrapassar os muros, a norma é clara e estabelece um dentro e um fora, fica o conflito com o título da coisa toda: Beyond the wall (Além do muro). E não é à toa que o último verso, meio político, esquema de fim de obra, (“Em Manhattan, só o rato é democrático”), esbanja o urbano e é cortado de modo preciso.

Alguns leitores bem poderiam pensar que o caráter urbano do verso esteja na palavra “Manhattan”. Que a política esteja no termo “democrático”. Nada mais longe da poética de Régis. É o “rato”. O “rato” é que nos remete à metrópole e à política. Esse rato que aparece diversas vezes entre os dois muros da moldura que estabelecemos para o livro. O rato que perambula pelos mendigos, por sobre cigarros amassados, que cheira o odor da urina e que consegue, por astúcia da espécie, ultrapassar os muros de concreto que cerceiam a liberdade própria do fazer poético.  

   

Obs: Esse artigo foi publicado na Revista Sibila - Revista de Poesia e Crítica Literária.        

domingo, 30 de agosto de 2015

Tradução: Poema de e. e. cummings


“i like my body when it is with your”

                                               e. e. cummings


i like my body when it is with your

body.      It is so quite new a thing.

muscles better and nerves more.

i like your body.     i like what it does,

i like its hows.       i like to fell the spine

of your body and its bones,and the trembling

-firm-smooth ness and which I will

again and again and again

kiss,      i like kissing this and that of you

i like,slowly stroking the,shocking fuzz

of your electric fur,and what-is-it comes

over parting flesh….And eyes big love-crumbs,
 


and possibly I like the thrill


 

of under me you so quite new

 

***

 

“eu gosto de meu corpo quando está com o teu”

                                               Tradução: Rodrigo Suzuki Cintra

 

eu gosto de meu corpo quando está com o teu

corpo.        É uma coisa tão verdadeiramente nova.

músculos melhores e nervos a mais.

eu gosto do teu corpo.       eu gosto do que ele faz,

eu gosto de teus comos.       eu gosto de sentir a espinha

de teu corpo e os ossos,e o tremer

-firme-macio samente e que eu vou

de novo de novo de novo

beijar,       eu gosto de beijar isso ou aquilo em você

eu gosto,vagarosamente de tocar o,choque dos pêlos

de tua pele elétrica,e o-que-vem

sobre a carne aberta....E olhos migalhas-de-amor,

 

e possivelmente eu gosto do tremor

 

de você sob mim tão novo sabor  



 

sábado, 6 de junho de 2015

Tradução: Dois Poemas de Hemingway


Portrait of a Lady
                   Ernest Hemingway

Now we will say it with a small poem. A poem that will not be good. A poem that will be easy to laugh away and will not mean anything. A mean poem. A poem written by a man with a grudge. A poem written by a boy who is envious. A poem written by someone who used to come to dinner. Not a nice poem. A poem that does not mention the Sitwells. A poem that has never been in England. A small poem to hurt ones feelings. A poem in which there are no crows. A poem in which nobody dies. A small poem that does not say it about love. A poem written by someone who does not know any better. A poem that is envious. A poem that is cheap. A poem that is not worth writing. A poem that why are such poems written. A poem that is it a poem. A poem that we had better write. A poem that could be better written. A poem. A poem that states something that everybody knows. A poem that states something that people have not thought of. An insignificant poem. A poem or not.
                            Gertrude Stein was never crazy
                            Gertrude Stein was very lazy.
Now that is all over perhaps it made a great difference if it was something that you cared about.

Retrato de uma Senhora
                   Tradução: Rodrigo Suzuki Cintra

Agora nós vamos dizê-lo com um pequeno poema. Um poema que não vai ser bom. Um poema que será muito fácil de rir e que não vai significar nada. Um poema desprezível. Um poema escrito por um homem com rancor. Um poema escrito por um garoto que é invejoso. Um poema escrito por alguém que costumava vir para o jantar. Não um poema agradável. Um poema que não menciona os Sitwells. Um poema que nunca esteve na Inglaterra. Um pequeno poema para magoar. Um poema em que não há corvos. Um poema em que ninguém morre. Um pequeno poema que não se refere ao amor. Um poema escrito por alguém que não sabe ao certo. Um poema que é invejoso. Um poema que é barato. Um poema que não vale a pena escrever. Um poema porque esses tipos de poemas são escritos. Um poema que é um poema. Um poema que era melhor escrever. Um poema que poderia ser melhor escrito. Um poema. Um poema que declara alguma coisa que todo mundo sabe. Um poema que declara alguma coisa que as pessoas não haviam pensado. Um poema insignificante. Um poema ou não.
                            Gertrude Stein nunca foi demente
                            Gertrude Stein era muito indolente.
Agora que tudo acabou talvez fizesse uma grande diferença se isso fosse alguma coisa que você se importasse.


***


[If my Valentine you won’t be...]
Ernest Hemingway

If my Valentine you won’t be,
I’ll hang myself on your Christmas tree.


[Se minha Namorada você não quiser se tornar...]
                            Tradução: Rodrigo Suzuki Cintra

Se minha Namorada você não quiser se tornar,
Na sua árvore de Natal, eu vou me enforcar.


quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Citação do Mês - Jan/2014





                                                                                                             Augusto de Campos
                                          

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Citação do Mês - Ago/2013


"apagar-me
diluir-me
desmanchar-me
até que depois
de mim
de nós
de tudo
não reste mais
que o charme" - Paulo Leminski

domingo, 4 de agosto de 2013

Tradução - Poema de William Blake


O Tygre
         Tradução: Rodrigo Suzuki Cintra


Tygre! Tygre! brilho queimando
Nas florestas da noite adentrando,
Que mão ou olho imortal poderia
Moldar tua temível symetrya?

Em que abismos ou céus distantes
Ardiam o fogo de teus olhos flamantes?
Em que asas ousou ele voar?
Que mão ousou o fogo atear?

E que ombros, & que arte,
Poderia um coração como o teu moldar-te?
E quando começou a bater teu coração,
Que terrível pé? & que terrível mão?

Que martelo? Que corrente?
Qual fornalha fundiu tua mente?
Em que bigorna? Que pegada do horror
Ousou agarrar mortalmente tua sanha de terror?

Quando as estrelas jogaram suas lanças fora,
E inundaram o céu com lágrimas de quem chora,
Será que ele sorriu ao que inventou?
Será que aquele que criou o Cordeiro também te criou?

Tygre! Tygre! brilho queimando
Nas florestas da noite adentrando,
Que mão ou olho imortal ousaria
Moldar tua temível symetrya?


The Tyger   
         William Blake

Tyger! Tyger! burning bright
In the forests of the night,
What immortal hand or eye
Could frame thy fearful symmetry?

In what distant deeps or skies
Burnt the fire of thine eyes?
On what wings dare he aspire?
What the hand dare sieze the fire?

And what shoulder, &what art,
Could twist the sinews of thy heart?
And when thy heart began to beat,
What dread hand? & what dread feet?

What the hammer? what the chain?
In what furnace was thy brain?
What the anvil? what dread grasp
Dare its deadly terrors clasp?

When the stars threw down their spears,
And water’d heaven with their tears,
Did he smile his work to see?
Did he who made the Lamb make thee?

Tyger! Tyger! burning bright
In the forests of the night,
What immortal hand or eye

Dare frame thy fearful symmetry?  

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Mulheres Invisíveis: Karina


Karina

 

Completamente neurastênica. Insuportável olhar. Significados perdidos. Quase sinestésica. Muito impulsiva. Tanto vulgar. Menos inteligente. Talvez esquecida. Às vezes castanho. Quem sabe rugas. Abrupta fala. Um dia raiva. Toda fugaz. Porque vermelho. De vez em quando brinquedo. Possível fraude. Mania mania. Lugar avenida. Sempre obstante. Pudera café. Entre os dentes. Macia carne. Secura baba. Até longe. Medida trinta e sete e meio. Nada mais. Veloz ceticismo. Ainda que banho. Manhã de cigarro. Sentimento de tudo. Paranoia de vez. Verso quarteto. Sintoma o azar. Como que estrias. Dinheiro da sobra. Troco de banhas. Tritura papel. Mesmo carbono. Assim um não dia. Mais que querendo. Beija espelhos. Antigamente depois. Bonecas sem pernas. Dessas ainda assim. Memória a criança. Surpreende o padrasto. Cantando para dentro. Escondida enfim. Pega a pega. Alcança lonjura. Grita caminho. Aquele doce é de alguém. Ciumenta da vida. De outra que corre. Às vezes de volta. Simétrica hora. Subdivide espaços. Estilhaça o mesmo. Meio do meio. Partícula cada. Outra reluz. Possivelmente que quase. Ela reflete. Si mesma coisa. Se talvez. E ela se quebra. Vai se quebrando. Ligeiramente fractal.

 

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Tradução - Poema de T. S. Eliot


O Nome dos Gatos
                   Tradução: Rodrigo Suzuki Cintra

Dar nome aos gatos é assunto complicado,
   Não é apenas um jogo que divirta adolescentes;
Podem pensar, à primeira vista, que sou doido desvairado
Quando eu digo, um gato deve ter TRÊS NOMES DIFERENTES.
Primeiro, temos o nome que a família usa diariamente,
   Como Pedro, Augusto, Alonso ou Zé Maria,
Como Vitor ou Jonas, Jorge ou Gui Clemente –
   Todos nomes sensíveis para o dia-a-dia.
Há nomes mais requintados se pensam que podem soar melhor,
   Alguns para os cavalheiros, outros para titia:
Como Platão, Demetrius, Electra ou Eleonor –
   Mas todos eles são sensíveis nomes de todo dia.
Mas eu digo, um gato precisa ter um nome que é particular,
   Um nome que lhe é peculiar, e que muito o dignifica,
De outro modo, como poderia manter sua cauda perpendicular,
   Ou espreguiçar os bigodes, orgulhar-se de sua estica?
Dos nomes deste tipo, posso oferecer um quórum,
   Como Munkustrap, Quaxo, ou Coricopato,
Como Bombalurina, ou mesmo Jellylorum –
   Nomes que nunca pertencem a mais de um gato.
Mas, acima e para além, ainda existe um nome a suprir,
   E este é o nome que você jamais cogitaria;
O nome que nenhuma investigação humana pode descobrir –
   Mas O GATO E SOMENTE ELE SABE, e nunca o confessaria.
Se um gato for surpreendido com um olhar de meditação,
   A razão, eu lhe digo, é sempre a mesma que o consome:
Sua mente está engajada em uma rápida contemplação
   De lembrar, de lembrar, de lembrar qual é o seu nome:
       Seu inefável afável
       Inefavefável
Oculto, inescrutável e singular Nome.


The Naming of Cats
                   T. S. Eliot

The Naming of Cats is a difficult matter,
    It isn’t just one of your holiday games;
You may think at first I’m as mad as a hatter
When I tell you, a cat must have THREE DIFFERENT NAMES.
First of all, there’s the name that the family use daily,
   Such as Peter, Augustus, Alonzo or James, 
Such as Victor or Jonathan, George or Bill Bailey –
    All of them sensible everyday names.
There are fancier names if you think they sound sweeter,
   Some for the gentlemen, some for the dames:
Such as Plato, Admetus, Electra, Demeter –
   But all of them sensible everyday names.
But I tell you, a cat needs a name that’s particular,
   A name that’s peculiar, and more dignified,
Else how can he keep up his tail perpendicular,
   Or spread out his whiskers, or cherish his pride?
Of names of this kind, I can give you a quorum,
   Such as Munkustrap, Quaxo, or Coricopat,
Such as Bombalurina, or else Jellylorum –
   Names that never belong to more than one cat.
But above and beyond there’s still one name left over,
   And that is the name that you never will guess;
The name that no human research can discover –
   But THE CAT HIMSELF KNOWS, and will never confess.
When you notice a cat in profound meditation,
   The reason, I tell you, is always the same:
His mind is engaged in a rapt contemplation
   Of the thought, of the thought, of the thought of his name:
      His ineffable effable
      Effanineffable
Deep and inscrutable singular Name.



segunda-feira, 21 de maio de 2012

Tradução - Poema de W. H. Auden


Funeral Blues

         W. H. Auden



Stop all the clocks, cut off the telefone,

Prevent the dog from barking with a juicy bone,

Silence the pianos and with muffled drum

Bring out the coffin, let the mourners come.



Let aeroplanes circle moaning overhead

Scribbling on the sky the message He is Dead,

Put crêpe bows round the white necks of the public doves,

Let the traffic policemen wear black cotton gloves.



He was my North, my South, my East and West,

My working week and my Sunday rest,

My noon, my midnight, my talk, my song;

I thought that love would last for ever: I was wrong.



The stars are not wanted now: put out every one;

Pack up the moon and dismantle the sun;

Pour away the ocean and sweep up the wood;

For nothing now can ever come to any good.



Blues Fúnebres

         Tradução: Rodrigo Suzuki Cintra



Parem todos os relógios, calem o telefone,

Impeçam o latido do cão com um osso para a fome,

Silenciem os pianos e com tambores chamem

A vinda do caixão, deixem que os desconsolados clamem.



Que aviões circulem no alto, um voo torto,

Rabiscando no céu a mensagem: ele está morto.

Que se coloque nos brancos pescoços de pombas coleiras pretas,

E os guardas de trânsito usem luvas de algodão negras.



Ele era meu Norte, meu Sul, meu Leste e Oeste,

Minha semana de trabalho, um domingo campestre,

Meu meio-dia, meia-noite, minha fala, minha canção;

Eu pensava que o amor duraria para sempre: Eu não tinha razão.



Não me importam mais as estrelas; tirem-as da minha frente,

Empacotem a lua, desmantelem o sol quente,

Despejem o oceano, tirem as florestas de perto:

Pois agora nada mais pode vir a dar certo.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Tradução - Soneto de Shakespeare

Soneto 138 de Shakespeare


When my love swears that she is made of truth,

I do believe her, thought I know she lies,

That she might think me some untutored youth

Unlearned in the world’s false subtleties.

Thus vainly thinking that she thinks me young,

Although she knows my days are past the best,

Simply I credit her false-speaking tongue;

On both sides thus is simple truth suppressed.

But wherefore says she not she is unjust?

And wherefore say not I that I am old?

O love’s best habit is in seeming trust,

And age in love loves not t’ have years told:

Therefore I lie with her, and she with me,

And in our faults by lies we flattered be. 


Soneto 138 de Shakespeare (tradução livre)

                                     Tradução: Rodrigo Suzuki Cintra



Quando meu amor jura que é feita de verdade,

Eu acredito nela, apesar de saber que é mentira,

Ela deve pensar que sou qualquer moço sem idade

Que não conhece de fato como o mundo gira.

Assim, inutilmente acreditando que ela me acha jovem,

Apesar de saber que meus melhores dias já não voltam mais,

Simplesmente eu acredito em suas palavras que me comovem,

Na medida em que a verdade não nos satisfaz.

Mas por que ela não admite ser desonesta?

E por que não admito ser um homem idoso?

O melhor do amor é ser hábito que ninguém protesta,

Pois mentir no amor é sempre mais gostoso:

Nos deitamos em nossas mentiras, eu com ela e ela comigo

E na mentira do amor nós encontramos abrigo.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Tradução - Poema de e. e. cummings

“in a middle of a room”
e. e. cummings

in a middle of a room
stands a suicide
sniffing a Paper rose
smiling to a self

“somewhere it is Spring and sometimes
people are in real:imagine
somewhere real flowers,but
I can’t imagine real flowers for if I

could,they would somehow
not Be real”
(so he smiles
smiling)“but I will not

everywhere be real to
you in a moment”
The is blond
with small hands

“& everything is easier
than I had guessed everything would
be;even remembering the way who
looked at whom first,anyhow dancing”

(a moon swims out of a cloud
a clock strikes midnight
a finger pulls a trigger
a bird flies into a mirror)

***

“no meio de um quarto”
Tradução: Rodrigo Suzuki Cintra

no meio de um quarto
está um suicida
cheirando uma rosa de Papel
sorrindo para um Eu

“em algum lugar é Primavera e de vez em quando
pessoas estão no real:imagine
em algum lugar flores reais,mas
eu não posso imaginar flores reais porque se eu

pudesse,elas de alguma maneira
não Seriam reais”
(então ele sorri
sorrindo)“mas eu não serei

em todo lugar real para
você em um instante”
O é loiro
com mãos pequenas

“& tudo é mais fácil
do que eu havia suposto que tudo
seria;inclusive lembrando a maneira de quem
olhou para quem primeiro,dançando de qualquer jeito”

(uma lua escapa de uma nuvem
um relógio bate meia-noite
um dedo puxa o gatilho
um pássaro atravessa um espelho)

domingo, 4 de setembro de 2011

TRADUÇÃO - Poema de Dylan Thomas

Do not go gentle into that good night

Dylan Thomas



Do not go gentle into that good night,

Old age should burn and rave at close of day;

Rage, rage against the dying of the light.



Though wise men at their end know dark is right,

Because their words had forked no lightning they

Do not go gentle into that good night.



Good men, the last wave by, crying how bright

Their frail deeds might have danced in a green bay,

Rage, rage against the dying of the light.



Wild men who caught and sang the sun in flight,

And learn, too late, they grieved it on its way,

Do not go gentle into that good night.



Grave men, near death, who see with blinding sight

Blind eyes could blaze like meteors and be gay,

Rage, rage against the dying of the light.



And you, my father, there on the sad height,

Curse, bless, me now with your fierce tears, I pray.

Do not go gentle into that good night.

Rage, rage against the dying of the light.



Não vás tão gentilmente nessa boa noite escura

Tradução: Rodrigo Suzuki Cintra



Não vás tão gentilmente nessa boa noite escura,

Os velhos deveriam arder e bradar ao fim do dia;

Raiva, raiva contra a morte da luz que fulgura.



Os homens sábios, em seu fim, sabem com brandura,

O porquê a fala de suas palavras estava vazia,

Nâo vão tão gentilmente nessa boa noite escura.



Os homens bons, ao adeus, gritando como a alvura

De seus feitos frágeis poderia ter dançado em uma verde baía,

Raiva, raiva contra a morte da luz que fulgura.



Os homens selvagens que roubaram e cantaram o sol na altura,

E aprenderam, tarde demais, que o lamento toma sua via,

Não vão tão gentilmente nessa boa noite escura.



Os homens graves, perto da morte, enxergam com olhar que perfura,

O olho quase cego a brilhar como meteoro, então, cintilaria,

Raiva, raiva contra a morte da luz que fulgura.



E você, meu pai, do alto e acima de tudo que perdura,

Maldiga, abençoe, com sua lágrima triste, eu pediria:

Não vá tão gentilmente nessa boa noite escura,

Raiva, raiva contra a morte da luz que fulgura.