segunda-feira, 13 de março de 2017
Palestra de Rodrigo Suzuki Cintra na Escola Paulista de Magistratura
sábado, 11 de fevereiro de 2017
Rrose Sélavy, 1920/1921 (Duchamp/Man Ray) ou Mulher de Tempo Lento
I
O
chapéu é por demais inusitado, personalíssimo, e chega mesmo a ser ousado,
quase insolente, se levarmos em consideração o fato de que é composto
basicamente por figuras geométricas dispostas de uma maneira aparentemente
aleatória.
Claro que isso já é uma forma de
impostura, uma vez que toda geometria que se pretenda aleatória é, em verdade,
a própria negação da geometria. Há sempre um princípio organizador nas formas
geométricas, elas são avessas ao caótico, de modo que basta decifrar sua lógica
interna para inviabilizar a sensação de que essas formas possam ser dispostas
sem alguma espécie de simetria própria.
Porém, os desenhos no chapéu dessa
mulher-enigma, basicamente compostos pelas ocasiões do negro no branco ou
vice-versa, são misteriosos a seu modo e decifrar o seu padrão é tarefa
difícil.
As figuras no chapéu parecem escapar –
quando fixamos uma das formas, outra delas dá a impressão de sorrateiramente
começar a se ocultar.
Por isso, talvez, alguns dizem,
inclusive, que estabelecer como se deslocam essas formas, essa brincadeira de
esconde, é a melhor maneira para começar a compreender essa mulher.
Existe, na essência do chapéu, um jogo
geométrico entre o visível e o invisível que potencializa o caráter misterioso
da fotografia. Mas, obviamente, os defensores dessa tese – os “analistas do
chapéu” (como ficaram historicamente conhecidos) – são aqueles mais tendentes a
matematizar a condição humana, e se esquecem, com frequência, de investigar, na
sua ânsia por delimitar quadrados, retângulos e triângulos, outros aspectos da
imagem desconcertante da mulher na fotografia.
II
Olhar
o próprio observador, perfurar o espectador, olhar para além e não enxergar
propriamente ninguém.
III
Há algo naqueles dedos que sugere
indiscutivelmente a feminilidade. Não é, como poderia se pensar, o fato de
serem menores e mais finos que os dedos dos homens, com suas mãos maiores e
mais brutas. Tampouco é a presença dos anéis o que nos certifica que se trata
de uma mulher.
É o modo como foram capturados pelo
instantâneo.
Levemente
dobrados, sutis, delicados ao tocar o casaco de pele. Dedos que sugerem
movimentos mais suaves, talvez menos bruscos. Dedos que fazem manha, que
delongam as ocasiões, e que são menos objetivos ao cumprir a tarefa de levantar
a gola do casaco de pele. Dedos de tempo lento, habituados aos caprichos
próprios à atuação, sempre demorando em completar cada movimento, como se cada
ação fosse uma espécie de performance.
IV
Somente
uma lente objetiva poderosamente aguçada poderia registrar o exato segundo em
que Rrose está propositalmente se atrasando alguns breves instantes para fazer
qualquer coisa absolutamente irrelevante: tudo se passa efetivamente na
cadência distendida de um momento meticulosamente alargado.
V
Toda
e qualquer mulher, de maneira absolutamente manhosa, atrasaria o ato de arrumar
o casaco de pele apenas alguns breves instantes só para ser registrada na
fotografia como uma mulher ligeiramente manhosa atrasando o ato de arrumar o
casaco de pele apenas alguns breves instantes antes de fazer alguma coisa de
importância sabidamente superestimada.
VI
É
preciso não estar entendendo absolutamente nada se o caso é o de indagar se a
mulher da fotografia é uma atriz ou não. Se ela está indo ao teatro ou se acaba
de sair de cena.
Em um sentido muito particular, toda
mulher é ela mesma e, ao mesmo tempo está sempre em cena.
O mais interessante da fotografia, na
verdade, é outra coisa.
Ela
enigmaticamente nos lembra de algo sobre as mulheres que vez ou outra deixamos
escapar e que pode passar despercebido inclusive por elas, acostumadas a
simplesmente agir da maneira habitual. A fotografia é de Rrose, mas bem poderia
ser de qualquer mulher representada em um momento em que se arquiteta
propositalmente, mas de maneira natural, as formas corporais e espirituais que
compõem aquilo que chamamos de feminilidade.
Talvez o segredo dessa fotografia seja
que ela consegue retratar perfeitamente, na captura do instantâneo, uma mulher
em um momento de verdade absoluta. Em performance ou não, o que no fundo é a
mesma coisa, a mulher que busca a plenitude feminina é aquela que não se cansa
de atuar, no teatro da vida, de acordo com aquele sonho maravilhosamente
impossível que ela mesma inventou para si.
domingo, 29 de janeiro de 2017
Diagnóstico Preciso, um conto de Rodrigo Suzuki Cintra
Cheguei,
como de costume, atrasado para a sessão. Claro que eu não gostava nem um pouco
de ir lá todas as semanas. Mas, meu comportamento, pelo que diziam, exigia
intervenções maiores.
Ele estava me esperando. Nunca
perguntava o motivo de meus atrasos. A verdade é que eu me atrasava só para ver
se ele ia falar alguma coisa. Nas nossas conversas, invariavelmente, somente eu
falo. Não é bem, então, o que se poderia chamar de uma conversa. Mas, essa parece
ser a técnica da coisa toda. Sabia que aquela seria a última sessão. Eu já não
aguentava mais aqueles truques intelectuais baratos e além disso, no fundo,
tudo que bastava era só eu não querer mais aparecer por lá. Ninguém me levaria
à força, obviamente. Avisei, por respeito, mas sem maiores avisos, que seria
nosso último encontro. Ele concordou. Não falou nada. Apenas acenou
afirmativamente com a cabeça. Eu estava me lixando para tudo aquilo, então, já
de saída na porta, antes de dar a despedida final, resolvi fazer alguma
pergunta cínica – daquelas típicas coisas que adoro fazer. Eu ia fingir, pela
última vez, que me interessava por aquelas conversas: ia simular um interesse
no meu próprio caso (como se eu, no fundo, não me conhecesse melhor do que ninguém).
“Doutor, diga-me com franqueza, qual é
o seu diagnóstico?
Ele me olhava fixamente, mas, não
parecia querer falar. Decidi, então, pressionar um pouco: “Eu já venho aqui há
muito tempo. Acho que o mínimo que o senhor poderia fazer é ser sincero comigo.”
Então, ele respondeu: “Você é um
impostor!”
Resolvi investigar melhor a afirmação.
Era a nossa última consulta, e afinal, aquilo era uma tese um pouco estranha.
Disse: “Mas, doutor, por que diz isso?”
Ele respondeu prontamente dessa vez:
“Você anda se fazendo passar por você mesmo!”
Não respondi. Desci pelo elevador. Saí
para o sol. Atravessei a rua fora da faixa de pedestres. Dobrei a primeira
esquina à direita. Não pensava em nada. Eu estava indo a pé para algum lugar
qualquer. Talvez, para casa. Dobrei à direita. Estava, de fato, até mesmo
feliz, afinal, estava me livrando de uma chatice das boas. Pensei, inclusive,
em dar uma passada em algum boteco. Talvez eu devesse, inclusive, comemorar. Eu
até que gosto de beber sozinho em botecos sujos. Dobrei à direita e fiquei a
olhar o sol, os pássaros, até as nuvens me encantavam com seus formatos
inesperados. Comecei, também, a olhar fixamente para as pessoas que passavam
por mim. Atravessei a rua na faixa de pedestres. Caminhei alguns metros. Subi de
elevador. O corredor era longo e estava escuro.
Cheguei, como de costume, atrasado
para a sessão.
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Rodrigo Suzuki Cintra
domingo, 22 de janeiro de 2017
Personagem a uma Janela, 1925 (Dali) ou Uma ideia Extravagante
I
As
ondas do mar, a passagem das nuvens no céu, o vento a produzir vincos nas
cortinas, o movimento do vestido, tudo isso foi pintado apenas para combinar
com os cachos do cabelo.
II
Ela é bela. E seu retrato é feito às
avessas. Em um retrato pode ser possível exprimir toda a biografia de uma
pessoa. Os retratos são imagens que descrevem a expressividade. Em todos os
casos, são a representação da face e, às vezes, da visão frontal do corpo. Ela,
no entanto, é retratada de costas. Há uma originalidade nisso porque, com
efeito, a ideia parece dar certo. Seu retrato está nos cachos malcriados de
cabelos escuros, no modo como uma de suas pernas se dobra gentilmente para trás
e fica na ponta do pé, o que lhe dá um ar de mulher fantasiosa. Na maneira como
ela apoia firmemente os dois braços na janela para olhar – como todos os dias
faz –, para fora de casa. No modo como o corpo bem esculpido modela um vestido
barato qualquer. Nas pernas parcialmente descobertas, mas que apontam
suficientemente para sinuosidades e que nos dão vontade de imaginar como seria
o resto do corpo sem o vestido. Em uma cintura mais fina que os glúteos
absolutamente carnudos e sugestivos.
É
o retrato de uma mulher possível.
Porém,
não conhecemos ninguém exatamente assim e tudo que podemos fazer é contemplar a
imagem e sonhar com um encontro inesperado e improvável com uma personagem que
habita exclusivamente o mundo das representações.
III
É
preciso conter o mar, enquadrar o céu, impedir a ação do vento, enfim,
desrespeitar, no recorte da janela, a plenitude de todos os elementos
essenciais, mas representar a suavidade tensa dos cachos do cabelo enigmáticos,
a paixão inesperada de glúteos convidativos e a imaginação infinita de um pé
direito sonhador. Uma ideia realmente extravagante seria beijá-la nervosamente
na nuca, se perder nos cabelos encaracolados, levantar parcialmente seu vestido
e colocar seu corpo na ponta dos dois pés.
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terça-feira, 13 de dezembro de 2016
Celebes, 1921 (Ernst) ou Breve gesto com Luva Vermelha
Escrito
em João Pessoa (07/11/14)
I
Um céu com texturas compostas de
tonalidades variadas de azul denuncia, por oposição, a terra desolada.
Apesar
de a imagem estar preenchida em quase toda a sua totalidade por uma criatura-estrutura
gigantesca e singular, temos a impressão que a área ao seu redor, caso
pudéssemos vê-la à distância, seria desértica.
A máquina-animal que está no centro da
cena é particularmente única. Pelo menos, e disso estamos certos, é a única que
pode ser vista nas proximidades.
Há algo de aço na robustez dessa coisa-coisa.
E mesmo que exista qualquer elemento orgânico em sua estrutura, isso deve,
provavelmente, também ser feito de algum material metálico, sem dúvida.
Alguns apostam, sem titubear, que se
trata de um elefante muito particular. Outros, que é, certamente, um tanque de
guerra pronto para o combate. De qualquer modo, veículo ou animal, trata-se de
um artefato ou de um ser extremamente curioso.
Aqueles que sustentam a tese de que se
trata de um elefante, apontam para a existência de uma tromba que, curvilínea,
causa mais impressão pelo fato de não parecer funcional do que pela sua
posição. Ela não parece ter começo nem fim. Está ligada ao mesmo tempo ao corpo
do elefante e a cabeça do animal, o que impossibilitaria o seu uso. Mas, parece
perfeitamente adequada a composição, apesar de ser, se assim o for, plenamente
inútil.
Para os que estão certos de que se trata
de um veículo de combate, é claro que a estrutura curvilínea a que os outros
chamam de tromba corresponde ao canhão do tanque. Um canhão meio inusitado
pois, a princípio, é menos rígido do que se esperaria de uma máquina de
artilharia pesada.
A cabeça da criatura-estrutura possui chifres
e dentes de latão e está separada do corpo ligando-se a este pela tromba, ou se
arriscarmos outra interpretação, pelo canhão.
Dois elementos, no entanto, chamam
atenção e apontam, cada um a seu modo, para interpretações divergentes. Uma
espécie de chaminé feita de peças de metal colorido disposta logo acima da estrutura
sugere que essa é mais um veículo militar que um elefante em potencial. Porém,
em contraposição, do lado esquerdo da criatura, duas presas se projetam do
corpo, dando a entender que se trata de um elefante particularmente especial e
não de uma máquina de guerra.
Às vezes, devido à posição das presas,
temos a impressão de que a cabeça verdadeira do animal está escondida pelo seu
corpo e que o que podemos ver na figura corresponde à sua parte traseira. A
tromba, assim, se transforma em rabo e a criatura toda parece ser ainda mais
enigmática visto que teria, nesse caso, duas cabeças.
II
Com
um gesto gracioso, o corpo da mulher sem cabeça domina o primeiro plano da
pintura, apesar de quase ninguém reparar nela. Sua imagem está recortada pela
própria tela e seu corpo muito branco, sem sombra de dúvida, está completamente
nu. Não há dúvida de que deve ser uma mulher muito bela, mas, de qualquer modo,
sua representação completa foi sequestrada pela lógica do quadro. Talvez o
gesto que ela faz com um dos braços, delicado e preciso, sugira que se trata de
uma bailarina. Inadvertidamente, sempre que estamos em dúvida, pensamos que são
bailarinas. A mulher certamente não está inerte e o movimento do braço não
poderia estar completo sem aquele gesto absolutamente característico da sua mão
que, atrevida e de propósito, deixa-se levar por aqueles modos caprichosos
exclusivamente femininos que causam admiração, proporcionam beleza e são
extremamente sedutores. É evidente e perceptível que a ausência da cabeça nessa
figura não se dá pelo recorte da tela. Sentimos, em um primeiro momento, a sua
falta. Porém, a delicadeza do gestual (e os seios perfeitos...) nos cativa logo
após um segundo exame e não conseguimos pensar em nenhuma cabeça específica que
pudesse ajudar a dar um significado maior para o modo como ela foi representada.
A ausência de cabeça, de certa maneira, facilita a imaginação – pois leva a
pensar qual rosto de mulher nos vem à mente quando o caso é o de tentar
preencher uma face que a própria imagem nos negou. A brancura do corpo da
mulher, a perfeição do volume de seus seios e a ausência de cabeça produzem um
impacto profundo em quem se propõe a olhar essa bailarina de um modo mais
detido. Essas características do corpo da bailarina quase que fazem com que não
nos preocupemos em perceber a luva que ela veste em uma das mãos. Talvez fosse
possível dizer, por causa disso, que a mulher não está completamente nua – a
luva ainda esconde algo de seu corpo. Porém, essa seria uma visão severamente
equivocada. Pois é justamente a luva, em cores vivas, a contrastar com a
brancura do corpo, que garante a nudez total.
III
Ao
ocupar quase que a totalidade da tela, a coisa-coisa, criatura-estrutura,
elefante-tanque tem matizes escuros, em tonalidades de cinza. Podemos ver toda
a sua proporção a partir do ponto de vista em que nos encontramos como
observadores. Estamos em ângulo privilegiado, bem de frente para este
monstruoso constructo.
Sua disposição aponta para a inércia, parece
estar parado, e sua estatura e volume, sem dúvida, nos remetem ao peso. Pode
bem ser que se trate de uma máquina de guerra singular, um elefante-tanque, e,
nesse caso, a impressão de que o cenário para além dos limites da tela, caso
pudéssemos vê-lo por completo, seria de pura desolação confirmaria a sensação
de que a estrutura em questão serve mais à destruição do que à vida.
Sua
existência, como potencial máquina de guerra, uma estrutura do extermínio, é intrigante
porque estranhamente dá a sensação de operar de maneira autônoma, sem
intervenção humana. Como se fosse uma mecânica que, de alguma forma, se bastasse.
A
mulher-bailarina é branca. Muito branca. Seu corpo está incompleto, em muitos
sentidos – a mulher não é retratada da cintura para baixo. Inclusive, estar ao
mesmo tempo dentro do campo de visão do observador e fora de seu campo de
visão, é estratégia fundamental para destacar sua movimentação. Ela está na
extremidade direita da pintura, mas em primeiro plano, e contrasta visivelmente
com a centralidade do tanquedeguerraelefante. Tudo nela aponta para um suave
deslocamento. Bem pode ser que ela esteja ensaiando para uma apresentação de
balé.
A
estrutura ao centro é, sem dúvida, composta de aço, metal e ferro; já a
bailarina, é feita de carne e sua estatura pequena, leve e magra entra em conflito
com o tamanho avantajado, o peso e o porte avolumado da criatura.
Mas, se a contradição é evidente, não
se sabe ao certo se é a possibilidade de dança ou a possibilidade de destruição
o que está fora do lugar na tela.
E, talvez, alguns críticos mais
atentos sugiram que, no fundo, as duas hipóteses correspondem à mesma coisa na
lógica da composição.
IV
Em
um céu de texturas elaboradas em tonalidades variadas de azul, em uma terra
desolada, em um solo em que a sombra nada revela, ao meio de três elementos
viris que brotam do chão, entre um peixe e outro voando no céu, entre o cinza e
o branco, peso e leveza, inércia e movimento, aço e carne: a tensão entre a
tromba e o seio.
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O Mês das Vindimas, 1959 (Magritte) ou Do Lado de Fora de Mim Mesmo
Existem dois homens iguais ao meio de cinco
homens iguais. Eles se vestem de preto.
Existem cinco homens iguais ao meio de
sete homens iguais. Eles usam chapéus.
Existem sete homens iguais ao meio de
onze homens iguais. Eles usam gravatas.
Existem onze homens iguais ao meio de
vinte e três homens iguais. Eles estão em pé.
Existem vinte e três homens iguais ao
meio de vinte e três homens iguais. Eles estão do lado de fora da minha janela.
Mas só um me incomoda.
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A Galeria Invisível
Para mim não existe diferença entre o
sonho e a realidade. Eu não sei nunca se o que faço é produto do sonho ou do
estado despertado.
Man Ray
É preciso ter uma ideia do que se irá
fazer. Mas deve ser uma vaga ideia.
Picasso
Loucura sim, mas tem seu método
Hamlet, Shakespeare
Existe um gênero literário clássico, uma
antiga técnica grega, chamado ekphrasis,
para muitos uma forma morta, que consiste em descrever uma obra de arte com a
maior exatidão possível, de modo a tornar factível a quem nunca a viu
efetivamente poder enxergá-la com os olhos da alma, como se estivesse bem na
sua frente. Há, nessa forma, um exagero de cálculo na descrição. Tratei de
compor os textos deste livro, que no fundo é um apanhado de fragmentos,
influenciado por essa maneira, se bem que por vezes me arrisque a narrar
histórias possíveis ou dissertar livremente sobre o valor de alguma obra
específica. Por se tratar exclusivamente de fragmentos que partem de ekphrasis de obras dadaístas e
surrealistas, conforme escolhi, certamente a lógica do real, imperativo típico
dos homens sem imaginação, cede a um modo de contemplação e composição um pouco
mais fantasioso e particular. Por certo que as descrições, as criações e as
argumentações que partem desses tipos de obras jamais poderiam ser fiéis
completamente se, de algum modo, não fossem ligeiramente malcriadas e não
estivessem no limiar entre razão e emoção, precisão e irreverência, sonho e
realidade.
Para minha querida
Allegra, pois seu papai, com amor e muito carinho, deseja que sonhe sempre o
impossível.
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PROJETO - A Galeria Invisível
Amig@s,
Vou publicar, quinzenalmente, um livro-projeto intitulado "A Galeria Invisível" na Revista Zagaia (online). É um livro que se situa entre o ensaio ficcional e a crítica de arte. A concepção do projeto e os dois primeiros posts já estão na Revista. Convido todos a ler o que postei e a acompanhar periodicamente essa experimentação. Abs e Bjos.
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quarta-feira, 30 de novembro de 2016
Citação do Mês - Dez/2016
"A arte não é um espelho para refletir o mundo, mas um martelo para forjá-lo"
Vladimir Maiakóvski
Vladimir Maiakóvski
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Maiakóvski
terça-feira, 29 de novembro de 2016
Lançamento de meu livro: "Shakespeare e Maquiavel - a tragédia do direito e da política"
Contracapa
O que Shakespeare tem em comum com Maquiavel? O que o genial dramaturgo e o polêmico pensador renascentista têm a dizer sobre a relação entre o Direito e a Política? De maneira rigorosa e, ao mesmo tempo, ousada, o filósofo Rodrigo Suzuki Cintra se propõe a reler as grandes tragédias de Shakespeare e o livro mais impactante de Maquiavel, O Príncipe, para tentar responder a essas perguntas. Por meio de análises de peças de Shakespeare, propostas de novas leituras de Maquiavel, resgates da tradição da tragédia no mundo ocidental, o autor procura, de maneira erudita, estabelecer como opera a ideia de trágico na formação da política e do direito na Era Moderna e mostrar como esta relação ainda se propõe como um problema para o nosso próprio tempo.
Orelha
Ser ou não ser – eis a questão. Além disso, deve-se, em todas as coisas, considerar o seu fim... As duas famosas frases, correntemente associadas a Shakespeare e Maquiavel, podem, em princípio, apontar para duas esferas distintas da produção humana: a arte e a política.
A ideia geral deste livro, no entanto, é tentar mostrar como arte e política podem ter conexões muito mais profundas do que aparentemente se supõe. Talvez, até mesmo uma ligação essencial. Por meio da apropriação do pensamento trágico de Shakespeare e de Maquiavel – a leitura de Maquiavel como pensador trágico é uma das teses polêmicas deste livro – trata-se de investigar como no início da Era Moderna a arte shakespeariana era extremamente política enquanto o pensamento político maquiaveliano tinha um elevado valor artístico-literário.
É via visão trágica de mundo que o autor, o filósofo Rodrigo Suzuki Cintra, traça seu esquema de interpretação da Era Moderna. Ao conectar arte e política em Shakespeare e Maquiavel, o autor resgata um problema que parece ser de extrema importância na obra destes importantes pensadores, uma questão que está no centro da tragédia: o lugar da justiça.
Se o núcleo da política é o poder e o núcleo do direito, a justiça, a tragédia enquanto formato literário e enquanto modo de viver e sentir o mundo se propõe sempre como uma forma política e jurídica. Assim, podemos encontrar nas grandes tragédias shakespearianas (Hamlet, Otelo, Rei Lear e Macbeth) e também em O Príncipe, de Maquiavel, uma preocupação em equacionar como o poder se liga à justiça. Será que poder e justiça estão implicados de maneira indissociável? Será que a justiça nada tem a dizer ou condicionar o poder?
Estudar esses autores em conjunto, entrecruzando suas obras, é uma alternativa original de investigar uma questão fundamental para a política e para o direito: quais são os limites do poder?
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