sábado, 26 de março de 2016

O Caprichoso e a Crise Política


Talvez um dos modos de navegação social mais distintivos de nossa vida política seja o capricho. Essa figura da extravagância, da vontade sem razões precisas, é típica de contextos arbitrários. Mas, algo não pode ser esquecido quando se trata de pensar uma política caprichosa: o capricho tem lado, é estruturante de um discurso de classe e, como bem se pode perceber, não reproduz verdadeiramente a voz do povo.

            O capricho é característico do discurso ideológico e, portanto, opera na base de um ocultamento das verdadeiras oposições em jogo.

            O caprichoso adere ao discurso de ocasião, menos por uma posição política particularmente calculada e mais por um senso de que as coisas políticas não caminham do jeito que ele gostaria. Claro que não haveria nenhum problema nisso se o que se manifestasse fosse uma posição crítica, ou mesmo, uma indignação mais verdadeira. O que parece ocorrer, no entanto, é apenas uma seletividade no que diz respeito ao que se pode e o que não se pode fazer em termos políticos.

            É desse modo que as fronteiras entre o lícito e o ilícito parecem ser tênues. A judicialização da política é usada de um modo especialmente contraditória. Com o intuito legítimo de averiguar denúncias de corrupção, ou seja, ilegalidades inaceitáveis, cometem-se outras ilegalidades igualmente inaceitáveis.

            O problema do caprichoso é que, como não está interessado em princípios de coerência – o que significa, aqui, o respeito a totalidade do direito –, ele aceita e propõe que a lei deva ser aplicada apenas no sentido em que seus interesses políticos sejam satisfeitos, não se incomodando nem um pouco quando se desrespeita a lei em seu próprio benefício.

            O capricho é, no fundo, avesso à legalidade, mas se transveste de rituais jurídicos para operar sua indignação mais profundamente interesseira.

            E como o capricho só pode servir à política a partir de uma dimensão de classe, afinal, só é caprichoso quem não vive da lógica da necessidade, é preciso cooptar parcela significativa da população para legitimar um discurso que tem um lugar de origem especifico. Então, tudo fica mais fácil.

            O caprichoso político é um indignado. Deixa claro: certas coisas, ele não aceita. A corrupção, então, tem que ser punida custe o que custar. O problema é que o custo não é baixo. Trata-se de desrespeitar o direito à privacidade, o devido processo legal, a produção lícita de provas judiciais, premiar os delatores e solapar prerrogativas constitucionais. Mas, o capricho se propõe como discurso fugidio. O que se pode fazer politicamente, é o que se quer, o que não interessa politicamente, é o que pode ser deixado de lado.

            A seletividade no que diz respeito a quais normas jurídicas cumprir é traço propriamente autoritário pois aponta para a ideia de que, para alguns, a lei deve ser severa, enquanto que para outros, ela pode ser um pouco mais elástica.

            É claro que não temos 200 milhões de caprichosos no Brasil – se bem que uma das características dessa figura, a transição tênue entre lícito e ilícito, nos seja muito cara –, mas, como se trata de discurso ideológico, a verdade é que o interesse mais mesquinho e individualista de alguns, se mostre a pauta geral de indignação da nação.

            O povo, o povo mesmo, está trabalhando. Pensando em como chegar sem atrasos para o serviço diário. Está preocupado com uma escola para os filhos. Está com dificuldades para colocar comida na mesa. Sua pauta política é bem clara.

            Mas, o caprichoso finge que seus problemas são iguais aos do povo. Afinal, somos todos brasileiros. Estamos todos juntos no mesmo barco. E o discurso nacionalista, que é o discurso que não exclui ninguém em essência, pode prosperar. O curioso é que o discurso da nação-pátria-unida se dê justamente em um dos países mais desiguais de todo o planeta.

            O caprichoso quer as coisas a seu modo. Pensa, inclusive, que tem o direito de pautar o debate de nossa crise política, afinal, está acostumado com o poder de sempre e se sente muitíssimo contrariado quando denúncias de corrupção são feitas contra os seus representantes mais proeminentes.

            Não se trata, em todo caso, de defender um governo absolutamente desastrado como o atual. Pelo menos, não no sentido de apoio aos desmandos e ilegalidades praticadas no seio da república. Mas, o que parece ser urgente, é colocar sob regime de suspeita um discurso ufanista blindado por uma superfície jurídica seletiva e de aparência democrática.

O capricho não é apenas contraditório e curioso, ele é perigoso. Antidemocrático por excelência, o capricho visa, em verdade, a estruturação de uma política autoritária, com os mesmos personagens de sempre no poder. É preciso evitar o engano, não se trata de uma substituição completamente radical do que está presente em nosso espectro político. O caprichoso diz querer o Estado de Direito, mas está plenamente disposto a esquecer essa ideia se for o caso de se estabelecer um novo governo para o Brasil. Razão de Estado, estamos em uma crise que talvez torne necessário, argumenta o caprichoso, subverter algumas regras de direito para alcançar o que se almeja. Todo o problema, aí, consiste no fato de que devemos esquecer propriamente o direito para se alcançar os objetivos de alguns poucos interessados realmente na sucessão pelo poder.
           O caprichoso quer ir às ruas como manifestante político legítimo. Veste uma roupa que, a princípio, nada diz ideologicamente (todo mundo é brasileiro...) grita xingamentos aos governantes (apesar de ser educado, sempre se pode chegar ao limite da paciência...) e é escoltado pela própria polícia que percebe que se trata de um manifestante pacífico, afinal, é evidente que não se trata de um manifestante revolucionário. Está, inclusive, no meio do povo. Finge ser exatamente o que não é: inofensivo e democrático. Mas, não resta dúvida. Quando chegar a hora, abrirá uma boca enorme e cheia de dentes pronta para morder violentamente o poder.            

domingo, 30 de agosto de 2015

Tradução: Poema de e. e. cummings


“i like my body when it is with your”

                                               e. e. cummings


i like my body when it is with your

body.      It is so quite new a thing.

muscles better and nerves more.

i like your body.     i like what it does,

i like its hows.       i like to fell the spine

of your body and its bones,and the trembling

-firm-smooth ness and which I will

again and again and again

kiss,      i like kissing this and that of you

i like,slowly stroking the,shocking fuzz

of your electric fur,and what-is-it comes

over parting flesh….And eyes big love-crumbs,
 


and possibly I like the thrill


 

of under me you so quite new

 

***

 

“eu gosto de meu corpo quando está com o teu”

                                               Tradução: Rodrigo Suzuki Cintra

 

eu gosto de meu corpo quando está com o teu

corpo.        É uma coisa tão verdadeiramente nova.

músculos melhores e nervos a mais.

eu gosto do teu corpo.       eu gosto do que ele faz,

eu gosto de teus comos.       eu gosto de sentir a espinha

de teu corpo e os ossos,e o tremer

-firme-macio samente e que eu vou

de novo de novo de novo

beijar,       eu gosto de beijar isso ou aquilo em você

eu gosto,vagarosamente de tocar o,choque dos pêlos

de tua pele elétrica,e o-que-vem

sobre a carne aberta....E olhos migalhas-de-amor,

 

e possivelmente eu gosto do tremor

 

de você sob mim tão novo sabor  



 

sábado, 6 de junho de 2015

Tradução: Dois Poemas de Hemingway


Portrait of a Lady
                   Ernest Hemingway

Now we will say it with a small poem. A poem that will not be good. A poem that will be easy to laugh away and will not mean anything. A mean poem. A poem written by a man with a grudge. A poem written by a boy who is envious. A poem written by someone who used to come to dinner. Not a nice poem. A poem that does not mention the Sitwells. A poem that has never been in England. A small poem to hurt ones feelings. A poem in which there are no crows. A poem in which nobody dies. A small poem that does not say it about love. A poem written by someone who does not know any better. A poem that is envious. A poem that is cheap. A poem that is not worth writing. A poem that why are such poems written. A poem that is it a poem. A poem that we had better write. A poem that could be better written. A poem. A poem that states something that everybody knows. A poem that states something that people have not thought of. An insignificant poem. A poem or not.
                            Gertrude Stein was never crazy
                            Gertrude Stein was very lazy.
Now that is all over perhaps it made a great difference if it was something that you cared about.

Retrato de uma Senhora
                   Tradução: Rodrigo Suzuki Cintra

Agora nós vamos dizê-lo com um pequeno poema. Um poema que não vai ser bom. Um poema que será muito fácil de rir e que não vai significar nada. Um poema desprezível. Um poema escrito por um homem com rancor. Um poema escrito por um garoto que é invejoso. Um poema escrito por alguém que costumava vir para o jantar. Não um poema agradável. Um poema que não menciona os Sitwells. Um poema que nunca esteve na Inglaterra. Um pequeno poema para magoar. Um poema em que não há corvos. Um poema em que ninguém morre. Um pequeno poema que não se refere ao amor. Um poema escrito por alguém que não sabe ao certo. Um poema que é invejoso. Um poema que é barato. Um poema que não vale a pena escrever. Um poema porque esses tipos de poemas são escritos. Um poema que é um poema. Um poema que era melhor escrever. Um poema que poderia ser melhor escrito. Um poema. Um poema que declara alguma coisa que todo mundo sabe. Um poema que declara alguma coisa que as pessoas não haviam pensado. Um poema insignificante. Um poema ou não.
                            Gertrude Stein nunca foi demente
                            Gertrude Stein era muito indolente.
Agora que tudo acabou talvez fizesse uma grande diferença se isso fosse alguma coisa que você se importasse.


***


[If my Valentine you won’t be...]
Ernest Hemingway

If my Valentine you won’t be,
I’ll hang myself on your Christmas tree.


[Se minha Namorada você não quiser se tornar...]
                            Tradução: Rodrigo Suzuki Cintra

Se minha Namorada você não quiser se tornar,
Na sua árvore de Natal, eu vou me enforcar.


domingo, 10 de maio de 2015

A Importância de ser Infiel ou A Dama do Cachorrinho



Rodrigo Suzuki Cintra

“A sua dama causou-me tamanha impressão que, apenas a conheci, quis trair minha mulher, sofrer, brigar etc.”
Górki em carta para Tchekhov em 1900.

            Uma história de adultério, na literatura e na vida, virada do avesso, pode ser também uma história de amor.
            Em poucas obras essa transição entre a simples traição e um verdadeiro amor aparece de maneira tão instigante quanto no conto A Dama do Cachorrinho de Anton Tchekhov. Há quem divida esse conto em partes (o próprio autor o fez) e demonstre na estrutura narrativa como uma paixão de ocasião se transforma no amor de uma vida. É como se Gurov e Ana, os personagens principais, ficassem desculpados por traírem seus respectivos cônjuges, pois, no fim das contas, percebem que se amam de verdade. O leitor, então, também se sente desculpado por torcer pelo sucesso dos encontros furtivos dos dois: “está tudo certo, afinal, eles se amam!”
            De minha parte, não posso dizer o mesmo. Curto cada etapa do texto: o seu tempo próprio. Desde o começo do relacionamento, ainda um momento em que a vontade titubeia, até a certeza de um amor pleno que a vontade não pode negar. E, pior: aprecio os parágrafos apaixonadamente, e com malícia.
 Gosto da maneira como Tchekhov traça em poucas linhas, em uma ou duas páginas no começo do conto, toda a armação que sustentará o adultério. E quando sinto prazer em ler essa passagem, não estou me importando nem um pouco se o caso extraconjugal será legítimo do ponto de vista amoroso. A questão não se propõe nesses termos para mim. A verdade é que o autor sabe perfeitamente conduzir o tempo interno da narrativa. E o melhor a fazer é nos deixar conduzir pelo ritmo do namoro. Tchekhov traça o perfil de Gurov com tamanha nitidez, com perfeita precisão em breves frases, que torna fácil para nós compreendermos os motivos que levam o personagem a trair reiteradas vezes sua esposa.
E quando Tchekhov descreve as caminhadas a sós, os beijos roubados, os abraços às escondidas e coloca tudo aquilo em uma cidade que não é a moradia regular dos amantes, enfim, quando situa tudo com um sabor de férias, é impossível não recordarmos de nosso próprio passado, de nossas paixões de estação. E ao percebermos a intensidade e a sinceridade dos encontros secretos dos personagens, lemos tudo aquilo com um sorriso no canto da boca. Pelo menos eu assim o faço. Tchekhov simplesmente nos toca, muitas vezes, porque faz lembrar, através de uma literatura sem rodeios e de estrutura simples, de sentimentos e momentos que nós, leitores, muito bem podemos reconhecer.
            E a narrativa vai crescendo em emoção de uma maneira nesse conto que é difícil traduzir. Quanto mais Gurov percebe que está perdidamente apaixonado por Ana, o que ele não desconfiava que pudesse acontecer dada a sua vasta experiência nos casos de amor proibido, mais o leitor se comove e participa dos sentimentos do personagem. Invariavelmente, começamos a torcer por aquele amor que não deveria efetivamente acontecer. Somos levados, por meio de uma escrita que não só diz respeito à paixão mas que em si mesma seduz, a desconsiderar os deveres tradicionais de fidelidade vigentes na estrutura moral da vida social. E então, absolutamente sinceros, queremos ler naquelas linhas bem traçadas que o amor pode vencer as convenções.
            Talvez seja justamente quando alcançamos esse ponto, quando estamos já embriagados por aquela escrita, que uma consideração inevitável, situada mais ou menos no meio do conto, de consequências devastadoras, sempre que a lemos causa algo de incomodo. Por que, muitas vezes, o que há de mais importante para nós, o que existe de mais verdadeiro, o que pode nos traduzir completamente, o que realmente importa de verdade, tem que ser ocultado em nossas vidas? Por que escondemos nossos desejos mais sinceros? A vida pulsante que encobrimos propositalmente é milhares de vezes mais franca, importante e essencial que nossa existência social regrada, sustentada por aparências e etiquetas dos bons costumes feitas de pura dissimulação. Isso é uma verdade que qualquer um pode perceber. Mas, o que fazemos? Persistimos na vidinha sem sobressaltos, na lógica do fingimento cotidiano, na morte de nossos desejos mais profundos, e tentamos sustentar, a todo custo, aquilo que os outros esperam de pessoas sensatas como nós.
Somos apenas coadjuvantes na peça de teatro de nossas próprias vidas.   
Muitos leitores questionam os desfechos dos contos de Tchekhov. Há algo de anticlímax. Um não-desfecho. É que depois de ter alcançado às alturas nas breves considerações sobre a natureza humana, ao relatar os sentimentos do personagem principal de maneira tão pungente, ficamos a esperar um desfecho igualmente estratosférico. Mas, não é isso que o autor requer de nós. Seus desfechos são um verdadeiro balde de água fria. Meio que não sabemos para onde ir. Não sabemos, ao certo, se gostamos ou não. Mas isso ocorre, é claro, porque o conto não poderia caminhar no mesmo ritmo até o fim. Uma história desse nível, contada dessa maneira, uma imensa afronta a nossa tendência de fingir para todos, se continuasse na mesma cadência até a última frase, certamente nos destruiria. Uma história que nos lembra, a todo momento, que fingimos para nós mesmos, que não aguentamos levar às últimas consequências as próprias paixões, sejam elas quais forem. Uma história que, a bem da verdade, acaba por nos denunciar: já não podemos mais, mas bem queríamos ter um amor como aquele. 

E, no entanto, Tchekhov precisava terminar de algum modo e sabia muito bem o que estava fazendo. O desfecho do conto é desconcertante. Menos porque não aponta para uma solução para que o casal fique junto - Gurov fica se perguntando “como?, como?, como?” -, mas porque nos lembra, invariavelmente, de nossos amores passados, daqueles casos que não sabemos ao certo o que foi que realmente aconteceu. As histórias de amor acabam. Na literatura e na vida. E nem sempre acabam bem resolvidas. 

domingo, 26 de abril de 2015

Citação do Mês - Abr/2015






"HAMM: Você já pensou numa coisa?

 CLOV: Nunca."

Diálogo de "Fim de Partida" de Samuel Beckett.

sábado, 25 de abril de 2015

Os Pássaros de Kafka - Parte 2



III – Um voo profundo


Um abutre estava bicando os meus pés. Já havia despedaçado as minhas botas e as meias, agora atacava os pés. Bicava-os com ferocidade, circundava-me sem trégua, e continuava o trabalho.
Franz Kafka, O Abutre


            Não sabemos nada sobre os motivos que levaram o abutre a bicar violentamente o narrador. A história já começa com os ataques deste pássaro. Pode ser que o personagem tenha cometido algum crime contra os deuses, tal qual Prometeu, condenado por ter roubado o fogo de Zeus e tê-lo entregue aos mortais, a ter o fígado comido eternamente por uma águia. Porém, em se tratando de Kafka, é bem possível, talvez quase certo, que o narrador não tenha cometido mal algum. O abutre simplesmente chegou e começou a bicar, conforme relata o personagem. A história inteira pode ser resumida em poucas frases. Um abutre que bicava ferozmente os pés do narrador escuta uma conversa entre esse e um cavalheiro. O cavalheiro, com a intenção de ajudar o torturado, se propõe a pegar uma espingarda para matar o abutre. Porém, compreendendo perfeitamente toda a armação para liquidá-lo, em um último ataque fulminante, o abutre arremessa, qual lança, o bico pela boca do protagonista.

            O que chama a atenção neste breve conto de Kafka é o ritmo da narrativa, uma capacidade de contar uma história inteira em poucas linhas e estabelecer uma quebra com a lógica das imagens surpreendente. Ao longo da narração, somos levados a imaginar concretamente cenas possíveis, porém, o conto termina com uma abstração, uma verdadeira negação da imagem e provoca a impressão de que tudo que podemos fazer é compreender, mas não imaginar.

            Podemos visualizar claramente a figura do abutre a dar voltas pelo céu e investir com seu bico nos pés do personagem principal. Também a conversa entre o narrador e o cavalheiro, conversa em que esse promete pegar uma espingarda e liquidar com o pássaro, pode ser perfeitamente idealizada. Porém a história, em dado momento, impede a possibilidade de representarmos imageticamente o que nos é narrado. É possível até imaginar o voo preciso em que o abutre mergulha dentro da boca do narrador: uma imagem violentíssima. No entanto, as últimas palavras são decisivas para a avaliação do valor deste texto: Caí para trás, aliviado ao sentir que ele se afogava irreparavelmente no meu sangue que inundava todos os abismos, cobria todas as praias

            De maneira surpreendente, o abutre que a princípio parecia que liquidaria o personagem-narrador, até mesmo porque se arremessa após inclinar-se bem para trás a fim de tomar impulso e mergulhar como uma lança o bico pela garganta do personagem, nas últimas linhas do conto, morre afogando-se irreparavelmente. Mas, como imaginar de maneira efetiva um abutre se afogando sem salvação no sangue dentro de um homem? Um afogamento em que o sangue deste homem inundava todos os abismos, cobria todas as praias.

            Kafka, ao fim de seu conto, na última sentença, inverte a lógica estabelecida durante toda a narrativa. Não só porque nos nega brilhantemente a possibilidade de compreendermos e representarmos o desfecho final por meio de imagens, mas porque inverte a lógica da violência, estabelecendo no sangue, por dentro do homem, a possibilidade de destruição daquilo que o atacava. Existe aqui uma verdadeira fusão da corporalidade. O inimigo externo, o abutre, se infiltra por dentro do homem após penetrar em voo rápido e certeiro pela boca do narrador. Torturador e torturado identificam-se, ao fim da história, corporalmente, no limite do próprio sangue, e, talvez somente assim, possam compartilhar do mesmo implacável destino.

            O personagem-narrador sente-se, de algum modo, aliviado. Ninguém mais lhe bica os pés. O abutre se afogou irreparavelmente dentro de seu sangue. A história, então, pode terminar abruptamente. Mas é claro que, dentro da estrutura narrativa montada por Kafka, a morte do abutre não significa a vida do narrador. 

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Em sala de aula - Breves impressões e notas de um aluno de Tercio Sampaio Ferraz Junior

Rodrigo Suzuki Cintra

“Perguntei a um homem o que era o Direito. Elle me respondeu que era a garantia do exercício da possibilidade. Esse homem chamava-se Galli Mathias. Comi-o”
                              Oswald de Andrade                                                                          

            A epígrafe deste ensaio pode ser encontrada na Teoria da Norma Jurídica de Tercio Sampaio Ferraz Junior. Seu conteúdo, um tanto jocoso, já denuncia, logo de saída, os discursos jurídicos herméticos, o palavrório legal, as definições jurídicas confusas[1]. O que a antropofagia de Oswald faz é quase uma impostura: quando os tecnocratas do direito pensam estar falando sério, mas, de fato, apenas produzem um discurso ininteligível, o melhor a se fazer é fazer graça.
            E ao mesmo tempo, esta citação está em um dos livros mais importantes produzidos por um dos nossos mais fundamentais juristas.
A questão, nos parece, está para além do bom-humor. A pergunta inicial de Oswald na citação em pauta está longe de ser ingênua. Afinal, o que é o direito?
            Um professor de Introdução ao Estudo do Direito tradicional não vacilaria, nem por um instante, em encher, protocolarmente, os estudantes de definições do que seria o fenômeno jurídico. Pois, o objetivo deste breve ensaio é mostrar um pouco da atividade de Tercio Sampaio Ferraz Jr. como professor de direito[2] e autor de textos de análise jurídica. O que significará, sem sombra de dúvida, mostrar o que singulariza este pensador e o torna professor inesquecível e autor incontornável. Para isso, faremos um certo desvio das amarras de um artigo objetivo e buscaremos em nossa experiência pessoal de contato com o professor Tercio, como aluno, espectador de sala de aula, e como leitor de sua obra, alguns elementos que possam, de alguma maneira, caracterizar o efeito impressionante que sua figura causa a um interlocutor eventual. Falaremos, em um exercício de rememoração, portanto, inicialmente, da excelência de suas aulas.  
            Ao contrário de um professor tradicional, Tercio Sampaio Ferraz Junior, talvez até por sua sólida formação filosófica[3], não era dado, nas aulas na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, a definir antes de questionar. Cada aula sobre um tema específico era uma análise dos pressupostos e dos limites do jurídico. O professor Tercio, em suas aulas, encorajava os alunos a refletir zeteticamente – tema, aliás, caro ao professor – sobre conceitos da dogmática jurídica. O resultado era uma forma de se fazer Introdução ao Estudo do Direito que era extremamente crítica, ao mesmo tempo em que deixava claro os institutos jurídicos que o jurista lida no dia-a-dia.
            O objetivo era evidente. O professor Tercio se preocupava não apenas com a formação de profissionais do direito, mas com a formação de juristas. Figuras que estariam imbuídas de cultura geral e jurídica e que pensariam o direito para além da interpretação fria e formal dos textos jurídicos.
            As aulas do professor Tercio eram marcadas por um estilo todo próprio, inconfundível. Tratava-se de apresentar um tema que, subitamente, devido a uma série de questionamentos, se transformava em um problema. Este problema era, por assim dizer, contornado na própria aula e, através de exemplos retirados da prática do direito, mostravam a íntima ligação entre o direito como teoria e o direito como práxis. Este problema, no entanto, levava a formação de um outro problema, invariavelmente, de difícil resolução. Nesse momento da aula, o professor Tercio, mais zetético do que nunca, apontava para as diversas dificuldades e armadilhas que esse problema dado suscitava. Terminava sua aula, na imensa maioria das vezes, com a frase: “Mas, isso nós vamos ver na próxima aula...”
            Deliciosa suspensão esta do próximo capítulo de seu curso em que um novo tema seria introduzido e posteriormente questionado e assim por diante. Com uma precisão de cronômetro, as aulas do professor terminavam pontualmente no momento devido e sempre com uma expectativa a ser satisfeita no próximo encontro.
O que os alunos tinham o privilégio de presenciar não era apenas a lógica de um pensamento que se constrói em frente aos nossos olhos em forma de puro argumento, mas era também, o constante exercício de uma retórica absolutamente envolvente que levava o interlocutor, espectador de sala de aula, a se seduzir pelo discurso de um filósofo do direito que é um verdadeiro professor. Forma e conteúdo, nas aulas do professor Tercio, começavam a se delinear como elementos do mesmo, como momentos indissociáveis da atividade de se pensar.
            Assim, como não identificar, nas aulas do professor Tercio, as finalidades tradicionais da retórica?
            As funções da retórica são, tradicionalmente, as seguintes: 1. Docere; 2. Movere; 3. Delectare. Docere é o ato de ensinar, de transmitir conhecimento, informar o interlocutor. Movere é a atividade de mover (co-mover), movimentar o espírito de quem ouve. E, por fim, Delectare é encantar, seduzir pela beleza do discurso. Todos, atributos facilmente percebidos nas aulas do professor Tercio que, pode se dizer, é mestre na arte da oratória. Ou seja, com o professor Tercio, os alunos não apenas aprendem, mas também têm a tendência a se encantar pela arte do bem-falar, pela beleza do argumento bem colocado. O que no caso do professor significa, ao mesmo tempo, invariavelmente, um rigor conceitual assombroso.  
              Nietzsche costumava afirmar que a retórica era republicana. Ela só poderia ter lugar e, de fato, só teve lugar historicamente, entre sujeitos de uma cidadania. Para esse filósofo, ser cidadão é poder persuadir e ser persuadido. As aulas do professor Tercio, nesse sentido, eram verdadeiros convites à cidadania. Não apenas porque materialmente nos ensinavam os institutos e categorias do direito, mas porque em sua forma, permitiam a inter-relação professor/aluno de uma maneira em que as perguntas dos alunos eram muitas vezes reincorporadas ao argumento principal do professor. Em outras palavras, era comum o professor Tercio recuperar na pergunta do aluno algum elemento que pudesse dar o gancho para um novo tema de discussão. Se é verdade que nenhuma pergunta passava sem o crivo da crítica, o professor, por outro lado, pacientemente, sempre sabia aproveitar as indagações dos alunos de modo a dar seguimento a uma nova forma de aproximação do problema jurídico em questão.
            Aliando a análise do direito à formação filosófica, as aulas do professor Tercio conseguiam conciliar a teorização da filosofia com a prática do direito. Nesse sentido, não é possível se enganar. O professor Tercio não é mero leitor de sistemas filosóficos, nem advogado inconsciente dos meandros das doutrinas que ele mesmo sustenta. O professor Tercio é um autor. Autor no sentido mais profundo do termo, que é o daquele que inova e constrói uma obra.
            Não vamos dizer que seus livros sejam acessíveis ao público em geral, se bem que não são, em hipótese alguma, obscuros. Trata-se, em todo caso, de uma escrita que se permite ser extremamente clara. Às vezes, de uma clareza tal que até mesmo ofusca os leitores acostumados com o vocabulário jurídico abstruso. Isso porque a escrita acompanha o que a aula do professor tem de melhor: o rigor.
            O livro de Introdução ao Estudo do Direito do professor Tercio, assim, é completamente diferente dos livros que podem ser encontrados sobre o assunto. Ali, o que está em jogo não é apenas uma exposição ordenada dos institutos jurídicos básicos. O que temos em mãos, e o que ouvimos na sala de aula, é a construção de toda uma teoria sobre o direito. Uma teoria que não esconde seu diálogo com autores das mais variadas tradições, e que importa em uma concepção particular do fenômeno jurídico.  
            Nas aulas, podiamos assistir o professor passear de maneira erudita e tranquila por autores como Kelsen, Viehweg, Hannah Arendt, Luhmann, Habermas, Jhering, Hart, Ross, Bobbio, Hobbes e mais uma série de outros autores[4]. E o que é melhor nisso tudo: discutia cada autor com profundidade de especialista sem se esquecer de traçar ideias por sua própria conta e risco.   

***

            Não são poucos os alunos que sofriam de uma estranha recapitulação intelectual: mesmo depois de formados, ou nos últimos anos da faculdade, resolviam voltar a assistir as primeiras aulas que tiveram na Faculdade de Direito com o professor Tercio.
            Pedindo permissão para frequentar as aulas – pedido que sempre era autorizado, por sinal –, os ex-alunos voltavam em peso para frequentar as aulas daquele professor que, de alguma forma, os marcou. Na maioria das vezes, admitiam que seu interesse consistia em uma constatação simples: sempre se aprende com o professor, não importa quanto já se pretenda saber sobre o direito. 



[1] Tudo que o pensamento de Tercio Sampaio Ferraz Junior não é.
[2] Tercio Sampaio Ferraz Junior foi professor titular da Faculdade de Direito da USP, instituição em que lecionava a disciplina Introdução ao Estudo do Direito.
[3] Vale aqui lembrar que o professor Tercio Sampaio Ferraz Junior, além de ser doutor formado em Direito pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco - USP, também é formado em Filosofia pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, tendo se doutorado em Filosofia pela Johannes Gutemberg Universitat de Mainz. 
[4] Anos depois de nossas primeiras aulas com o professor Tercio, no primeiro ano da graduação em direito, pudemos constatar, durante nossos estudos de pós-graduação, que o universo de referências do professor era ainda muito mais extenso do que poderíamos supor... 

Ordem e desordem na crítica brasileira: sobre um ensaio de Antonio Candido


Rodrigo Suzuki Cintra


“No âmbito do marxismo, a ligação entre literatura e sociedade não é uma audácia, é uma obrigação.”
                                                                                              Roberto Schwarz


Quando Antonio Candido escreveu seu ensaio sobre as Memórias de um sargento de milícias acabou fazendo mais que reavaliar a tradição crítica sobre este romance. De fato, como constata Roberto Schwarz, o crítico realizou a proeza de escrever em 1970 nosso primeiro estudo propriamente dialético.
Tratava-se, na ocasião, de um ensaio literário que, por sondar a experiência social brasileira, ativava o programa materialista.
Em sua Dialética da malandragem, nosso Autor escrevia de forma clara e precisa, sem alardear vocabulário carregado de terminologias, e explicava, com a paciência de professor, os motivos pelos quais as Memórias de um sargento de milícias devem ser compreendidas como uma obra singular em nossa tradição literária.
Fugindo da caracterização europeia logo de saída, ao sustentar que o romance de Manoel Antônio de Almeida não era picaresco nem documentário, nosso Autor estava de maneira indireta assumindo a posição de que a literatura brasileira não é mera repetição de formas estrangeiras, mas sim algo novo.
            É nesse sentido que o herói de Memórias não deve ser entendido como uma figura pícara, como na experiência literária espanhola: ele é malandro. A determinação de suas características faz mais que mostrar especificamente quem é Leonardo Filho, mas o insere em uma tradição. Uma tradição brasileira que segue desde a Colônia, manifestada pela figura de Pedro Malasartes, e percorre a história literária brasileira até o modernismo no século XX, com Macunaíma e Serafim Ponte-Grande -  a malandragem. O malandro é o aventureiro astucioso, gosta do “jogo em si”, está sempre no limite entre o lícito e o ilícito e será a figura chave para a compreensão do ensaio de Antonio Candido. Isso porque o malandro é figura que existe efetivamente tanto no campo da ficção quanto no da realidade.
            As Memórias, como aponta Antonio Candido, são únicas no panorama de nossa ficção oitocentista porque não expressam a visão de nossa classe dominante. O autor das Memórias suprime os escravos e as classes dirigentes, sobrando-lhe um setor intermediário e anômico da sociedade, cujas características, entretanto, serão decisivas para a medida das relações ideológicas entre as classes sociais. 
            Tratava-se de caracterizar os homens livres e sua lei. Estes homens viviam num espaço social intermediário e anômico, em que não integravam a ordem, mas também não podiam dela prescindir.
            Talvez o maior achado de Antonio Candido tenha sido o de perceber que as Memórias operam através da lógica da dialética entre ordem e desordem. Ordem e desordem seriam a própria forma do romance, a “lei de sua intriga”, seriam o princípio que organizaria a realidade e a ficção.
            A figura do malandro é a mais adequada a este tipo de organização de mundo em que forças da ordem, como a polícia, por exemplo, concorrem com as forças da desordem. Ele é o tipo que transita entre os dois mundos. Está sempre atuando no limiar, no cinzento, entre o que se pode e o que não se deve fazer. A alternativa lícito/ilícito é perfeitamente relativizada pelo malandro. O malandro encarna a esperteza popular, sabedoria genérica da sobrevivência em um mundo repleto de obstáculos e iniquidades.
            Antonio Candido consegue, inclusive, sintetizar a questão da dialética da ordem e da desordem em uma imagem que capta do livro: o chefe-de-polícia, major Vidigal, vestido com a casaca do uniforme, mas com as calças domésticas e exibindo, sem querer, seus tamancos. A imagem, boa demais para ser descartada, mas que somente a leitura do crítico faz perceber, aponta para os dois “hemisférios” nos quais orbitam a vida dos personagens e as relações sociais descritas no romance. Nem mesmo o pólo mais evidente da ordem, o da polícia de Vidigal, passa livre da desordem que caracteriza a vida dos personagens que o próprio Vidigal persegue.
            Tudo se passa como se os personagens descrevessem uma verdadeira dança entre lícito e ilícito, sem que possamos dizer, satisfatoriamente, o que é um e o que é outro.
            Tomemos o roteiro das relações amorosas que pululam aos montes no romance. São “vinte mancebias a cada casamento e mil uniões fortuitas a cada mancebia”. Em outras palavras, os homens e mulheres livres e pobres se arranjavam da maneira que a vida parecia mandar, em uma oposição clara entre os casamentos devidamente realizados de acordo com a ordem moral, e as relações de convivência efetivas, mas não oficiais.
            Fazendo uma crítica materialista toda a seu jeito, Antonio Candido, esbanjando originalidade, impregna de dialética seu ensaio porque vislumbra a dialética na composição do próprio romance de Manoel Antônio. De caso pensado ou não, o fato é que as Memórias serviriam de registro da sociedade oitocentista – afinal, “Era no tempo do rei”...
            O valor do ensaio de Antonio Candido não está na mera ligação entre sociedade e literatura. Está muito mais no fato de nosso Autor buscar a sociedade através da forma literária e não o contrário. O elemento estético está em primeiro lugar.
Em outras palavras, antes de intuída e objetivada pelo romancista, a forma que o crítico estudou foi produzida pelo processo social, porém apesar da obra relatar seu próprio tempo e sociedade, a dinâmica das Memórias tem um valor estético todo próprio.
            Como explica Roberto Schwarz: “Assim, o ensaio retoma o esforço de interpretação da experiência brasileira, que havia sumido da crítica exigente, e talvez se possa dizer que inaugura a sondagem do mundo contemporâneo através de nossa literatura.”
            Redução da forma social a uma forma estética, a verdade é que nosso Autor, como aponta Paulo Arantes, percebeu que na circulação dos personagens das Memórias pelas esferas sociais da ordem (Brasil burguês) e da desordem (pólo negativo do Brasil burguês), estrutura central do romance, existia a fórmula que estilizava um ritmo geral da sociedade brasileira na primeira metade do século XIX.
            A Dialética da Malandragem, balanceio caprichoso entre ordem e desordem, define não apenas a estrutura da obra que se critica, mas explica a fisionomia do país que a produziu.

sábado, 28 de fevereiro de 2015

LADIFILA - Processo Seletivo - 1ºSem/2015




PROCESSO SELETIVO PARA GRUPO DE PESQUISA DA FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE (1º Semestre - 2015)


PROF. COORDENADOR: Prof. Dr. Rodrigo Suzuki Cintra

OBJETIVOS:  1. Discutir o aspecto jurídico e filosófico de obras artísticas (literatura, cinema, teatro, pintura, fotografia etc.) através da análise das próprias obras e da crítica de arte especializada.

                         2. Realizar debates, palestras, congressos sobre temas específicos abordados nas reuniões do grupo.

                         3. Produzir textos acadêmicos para publicação.

REUNIÕES: 2ªs feiras, 15:00hs – 17:00hs. (Quinzenais)

SELEÇÃO DOS ALUNOS (dissertação e entrevista): Os alunos interessados estão convidados para uma seleção a ser realizada no dia 09/03/15, segunda-feira, às 13:30hs., no prédio 24, sala 105 (Faculdade de Direito).

INSCRIÇÕES E MAIORES INFORMAÇÕES: rodrigo.cintra@mackenzie.br
               

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

100 livros essenciais da literatura brasileira - Revista BRAVO!

 

1. Bagagem (Adélia Prado)
2. O Cortiço (Aluísio Azevedo)
3. Lira dos Vinte Anos (Álvares de Azevedo)
4. Noite na Taverna (Álvares de Azevedo)
5. Quarup (Antonio Callado)
6. Brás, Bexiga e Barra Funda (Antonio de Alcântara Machado)
7. Romance d’A Pedra do Reino (Ariano Suassuna)
8. Viva Vaia (Augusto de Campos)
9. Eu (Augusto dos Anjos)
10. Ópera dos Mortos (Autran Dourado)
11. O Uruguai (Basílio da Gama)
12. O Tronco (Bernardo Elis)
13. A Escrava Isaura (Bernardo Guimarães)
14. Morangos Mofados (Caio Fernando Abreu)
15. A Rosa do Povo (Carlos Drummond de Andrade)
16. Claro Enigma (Carlos Drummond de Andrade)
17. Os Escravos (Castro Alves)
18. Espumas Flutuantes (Castro Alves)
19. Romanceiro da Inconfidência (Cecília Meireles)
20. Mar Absoluto (Cecília Meireles)
21. A Paixão Segundo G.H. (Clarice Lispector)
22. Laços de Família (Clarice Lispector)
23. Broqueis (Cruz e Souza)
24. O Vampiro de Curitiba (Dalton Trevisan)
25. O Pagador de Promessas (Dias Gomes)
26. Os Ratos (Dyonélio Machado)
27. O Tempo e o Vento (Érico Veríssimo)
28. Os Sertões (Euclides da Cunha)
29. O que é Isso, Companheiro? (Fernando Gabeira)
30. O Encontro Marcado (Fernando Sabino)
31. Poema Sujo (Ferreira Gullar)
32. I-Juca Pirama (Gonçalves Dias)
33. Canaã (Graça Aranha)
34. Vidas Secas (Graciliano Ramos)
35. São Bernardo (Graciliano Ramos)
36. Obra Poética (Gregório de Matos)
37. O Grande Sertão: Veredas (Guimarães Rosa)
38. Sagarana (Guimarães Rosa)
39. Galáxias (Haroldo de Campos)
40. A Obscena Senhora D (Hilda Hist)
41. Zero (Ignácio de Louola Brandão)
42. Malagueta, Perus e Bacanaço (João Antônio)
43. Morte e Vida Severina (João Cabral de Melo Neto)
44. A Alma Encantadora das Ruas (João do Rio)
45. Harmada (João Gilberto)
46. Contos Gauchescos (João Simões Lopes Neto)
47. Viva o Povo Brasileiro (João Ubaldo Ribeiro)
48. A Moreninha (Joaquim Manuel de Macedo)
49. Gabriela, Cravo e Canela (Jorge Amado)
50. Terras do Sem Fim (Jorge Amado)
51. Invenção de Orfeu (Jorge de Lima)
52. O Coronel e o Lobisomem (José Cândido de Carvalho)
53. O Guarani (José de Alencar)
54. Lucíola (José de Alencar)
55. Os Cavalinhos de Platiplanto (J. J. Veiga)
56. Fogo Morto (José Lins do Rego)
57. Triste Fim de Policarpo Quaresma (Lima Barreto
58. Crônica da Casa Assassinada (Lúcio Cardoso)
59. O Analista de Bagé (Luis Fernando Veríssimo)
60. Tremor de Terra (Luiz Vilela)
61. As Meninas (Lygia Fagundes Telles)
62. Seminário dos Ratos (Lygia Fagundes Telles)
63. Memórias Póstumas de Brás Cubas (Machado de Assis)
64. Dom Casmurro (Machado de Assis)
65. Memórias de um Sargento de Milícias (Manuel Antônio de Almeida)
66. Libertinagem (Manuel Bandeira)
67. Estrela da Manhã (Manuel Bandeira)
68. Galvez, Imperador do Acre (Márcio Souza)
69. Macunaíma (Mário de Andrade)
70. Paulicéia Desvairada (Mário de Andrade)
71. O Homem e Sua Hora (Mário Faustino)
72. Nova Antologia Poética (Mário Quintana)
73. A Estrela Sobe (Marques Rebelo)
74. Juca Mulato (Menotti Del Picchia)
75. O Sítio do Pica-pau Amarelo (Monteiro Lobato)
76. As Metamorfoses (Murilo Mendes)
77. O Ex-mágico (Murilo Rubião)
78. Vestido de Noiva (Nelson Rodrigues)
79. A Vida Como Ela É (Nelson Rodrigues)
80. Poesias (Olavo Bilac)
81. Avalovara (Osman Lins)
82. Serafim Ponte Grande (Oswald de Andrade)
83. Memórias Sentimentais de João Miramar (Oswald de Andrade)
84. O Braço Direito (Otto Lara Resende)
85. Sermões (Padre Antônio Vieira)
86. Catatau (Paulo Leminski)
87. Baú de Ossos (Pedro Nava)
88. Navalha de Carne (Plínio Marcos)
89. O Quinze (Rachel de Queiroz)
90. Lavoura Arcaica (Raduan Nassar)
91. Um Copo de Cólera (Raduan Nassar)
92. O Ateneu (Raul Pompéia)
93. 200 Crônicas Escolhidas (Rubem Braga)
94. A Coleira do Cão (Rubem Fonseca)
95. A Senhorita Simpson (Sérgio Sant’Anna)
96. Febeapá (Stanislaw Ponte Preta)
97. Marília de Dirceu (Tomás Antônio Gonzaga)
98. Cartas Chilenas (Tomás Antônio Gonzaga)
99. Nova Antologia Poética (Vinícius de Moraes)
100. Inocência (Visconde de Taunay)

100 Livros Essenciais da Literatura Mundial - Revista BRAVO!


1. Ilíada, de Homero
2. Odisseia, de Homero
3. Hamlet, de William Shakespeare
4. O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de la Mancha, de Miguel de Cervantes (1/2)
5. A Divina Comédia, de Dante Alighieri (3/3)
6. Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust (1/7)
7. Ulisses, de James Joyce
8. Guerra e Paz, de Leon Tosltói
9. Crime e Castigo, de Fiódor Dostoiévski
10. Os Ensaios, de Michel de Montaigne
11. Édipo Rei, de Sófocles
12. Otelo, de William Shakespeare
13. Madame Bovary, de Gustave Flaubert
14. Fausto, de Johann Wolfgang von Goethe
15. O Processo, de Franz Kafka
16. Doutor Fausto, de Thomas Mann
17. As Flores do Mal, de Charles Baudelaire
18. O Som e a Fúria, de William Faulkner
19. A Terra Desolada, de T. S. Eliot
20. Teogonia, de Hesíodo
21. Metamorfoses, de Ovídio
22. O Vermelho e o Negro, de Stendhal
23. O Grande Gatsby, de Francis Scott Fitzgerald
24. Uma Temporada no Inferno, de Arthur Rimbaud
25. Os Miseráveis, de Victor Hugo
26. O Estrangeiro, de Albert Camus
27. Medeia, de Eurípides
28. Eneida, de Virgílio
29. Noite de Reis, de William Shakespeare
30. Adeus às Armas, de Ernest Hemingway
31. O Coração das Trevas, de Joseph Conrad
32. Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley
33. Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf
34. Moby Dick, de Herman Melville
35. Histórias Extraordinárias, de Edgar Allan Poe
36. A Comédia Humana, de Honoré de Balzac
37. Grandes Esperanças, de Charles Dickens
38. O Homem sem Qualidades, de Robert Musil
39. As viagens de Gulliver, de Jonathan Swift
40. Finnegans Wake, de James Joyce
41. Os Lusíadas, de Luís de Camões
42. Os Três Mosqueteiros, de Alexandre Dumas
43. Retrato de uma Senhora, de Henry James
44. Decamerão, de Giovanni Boccaccio
45. Esperando Godot, de Samuel Beckett
46. 1984, de George Orwell
47. A Vida de Galileu, de Bertolt Brecht
48. Os Cantos de Maldoror, de Lautréamont
49. A Tarde de um Fauno, de Stéphane Mallarmé
50. Lolita, de Vladimir Nabokov
51. Tartufo, de Molière
52. As Três Irmãs, de Anton Tchekhov
53. O Livro das Mil e Uma Noites
54. O Burlador de Sevilha, de Tirso de Molina
55. Mensagem, de Fernando Pessoa
56. Paraíso Perdido, de John Milton
57. Robinson Crusoé, de Daniel Defoe
58. Os Moedeiros Falsos, de André Gide
59. Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis
60. O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde
61. Seis Personagens à Procura de um Autor, de Luigi Pirandello
62. As Aventuras de Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll
63. A Náusea, de Jean-Paul Sartre
64. A Consciência de Zeno, de Italo Svevo
65. Longa Jornada Noite Adentro, de Eugene Gladstone O’Neill
66. A Condição Humana, de André Malraux
67. Os Cantos, de Ezra Pund
68. Canções da Inocência-Canções da Experiência, de William Blake
69. Um Bonde Chamado Desejo, de Tennessee Williams
70. Ficções, de Jorge Luis Borges
71. O Rinoceronte, de Eugène Ionesco
72. A Morte de Virgílio, de Hermann Broch
73. Folhas de Relva, de Walt Whitman
74. O Deseros dos Tártaros, de Dino Buzzati
75. Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez
76. Viagem ao Fim da Noite, de Louis-Ferdinand Céline
77. A Ilustre Casa de Ramires, de Eça de Queirós
78. O Jogo da Amarelinha, de Julio Cortázar
79. As Vinhas da Ira, de John Steinbeck
80. Memórias de Adriano, de Marguerite Yourcenar
81. O Apanhador no Campo de Centeio, de J. D. Salinger
82. As Aventuras de Huckleberry Finn, de Mark Twain
83. Contos - Hans Christian Andersen
84. O Leopardo, de Tomasi di Lampedusa
85. A Vida e as Opiniões do Cavalheiro Tristram Shandy, de Laurence Sterne
86. Uma Passagem para a Índia, de Edward Morgan Forster
87. Orgulho e Preconceito, de Jane Austen
88. Trópico de Câncer, de Henry Miller
89. Pais e Filhos, de Ivan Turguêniev
90. O Náufrago, de Thomas Bernhard
91. A Epopeia de Gilgamesh
92. O Mahabharata
93. As Cidades Invisíveis, de Italo Calvino
94. Oh The Road, de Jack Kerouac
95. O Lobo da Estepe, de Herman Hesse
96. O Complexo de Portnoy, de Philip Roth
97. Reparação, de Ian McEwan
98. Desonra, de J. M. Coetzee
99. As Irmãs Makioka, de Junichiro Tanizaki
100. Pedro Páramo, de Juan Rulfo    

100 melhores discos brasileiros - MTV

Em 2003 Revista MTV Music Television 22 perguntou a 52 jornalistas, artistas e experts da área musical brasileira quais os melhores discos lançados no Brasil, em todos os tempos. Foram citadas 552 obras, das quais foram classificadas as 100 MELHORES. Confira a lista:


  1. TROPICALIA OU PANIS ET CIRCENCIS, Caetano Veloso,  Mutantes,  Gilberto Gil,  Gal Costa,  Tom Zé,  Torquato Neto,  Capinan,  Nara Leão e Rogério Duprat, 1968
  2. ACABOU CHORARE, Novos Baianos, 1972
  3. A TÁBUA DE ESMERALDA, Jorge Ben, 1974
  4. SECOS & MOLHADOS, Secos & Molhados, 1973
  5. OS MUTANTES, Mutantes, 1973
  6. CHEGA DE SAUDADE, João Gilberto, 1959
  7. DA LAMA AO CAOS, Chico Science & Nação Zumbi, 1994
  8. TRANSA, Caetano Veloso, 1972
  9. EXPRESSO 2222, Gilberto Gil, 1972
  10. ELIS & TOM, Elis Regina e Tom Jobim, 1974
  11. Selvagem?, Paralamas do Sucesso, 1986
  12. Clube da Esquina, Milton Nascimento e Lô Borges, 1972
  13. Cartola, Cartola, 1976
  14. Construção, Chico Buarque, 1971
  15. Tim Maia, Tima Maia, 1970
  16. Krig-ha,  Bandolo!, Raul Seixas, 1973
  17. Fruto Proibido, Rita Lee e Tutti Frutti, 1975
  18. Tim Maia Racional, Tim Maia, 1975
  19. Amoroso, João Gilberto, 1977
  20. Cartola, Cartola, 1974
  21. Afrociberdelia, Chico Science & Nação Zumbi, 1996
  22. Mutantes, Mutantes, 1969
  23. Pérola Negra, Luiz Melodia, 1973
  24. Samba Esquema Novo, Jorge Ben, 1963
  25. Refazenda, Gilberto Gil, 1975
  26. Em ritmo de aventura, Roberto Carlos, 1967
  27. Fa-Tal Gal a todo vapor, Gal Costa, 1971
  28. Minas, Milton Nascimento, 1975
  29. Sobrevivendo no inferno, Racionais MC's, 1998
  30. Legião urbana, Legião Urbana, 1985
  31. Coisas, Moacir Santos, 1965
  32. Meus caros amigos, Chico Buarque, 1976
  33. Canções Praieiras, Dorival Caymmi, 1954
  34. Estudando o Samba, Tom Zé, 1976
  35. Acústico MTV 2001, Cássia Eller, 2001
  36. Lóki?, Arnaldo Baptista, 1974
  37. Cabeça Dinossauro, Titãs, 1976
  38. Roots, Sepultura, 1996
  39. Nós vamos invadir sua praia, Ultraje a Rigor, 1985
  40. Caetano Veloso, Caetano Veloso, 1967
  41. Muito,  Dentro da Estrela Azulada, Caetano Veloso, 1978
  42. Os afro-sambas de Baden e Vinicius, Vinicius de Moraes,  Quarteto em Cy e Baden Powel, 1966
  43. Urubu, Tom Jobim, 1976
  44. Gilberto Gil, Gilberto Gil, 1969
  45. Falso Brilhante, Elis Regina, 1976
  46. Nervos de Aço, Paulinho da Viola, 1973
  47. Gal Costa, Gal Costa, 1969
  48. Caça à raposa, João Bosco, 1975
  49. Verde anil cor de rosa e carvão, Marisa Monte, 1994
  50. Samba esquema noise, Mundo Livre S/A, 1994
  51. Maria Fumaça, Banda Black Rio, 1977
  52. Essa tal de Gang 90 & Absurdettes, Gang 90, 1983
  53. Caetano e Chico,  juntos e ao vivo, Caetano Veloso e Chico Buarque, 1972
  54. Gil & Jorge (Ogum Xangô), Gilberto Gil e Jorge Ben , 1975
  55. Novo Aeon, Raul Seixas, 1975
  56. O grande circo místico, Chico Buarque e Edu Lobo, 1983
  57. Matita Perê, Tom Jobim, 1973
  58. Wave, Tom Jobim, 1967
  59. África Brasil, Jorge Ben, 1976
  60. O inimitável, Roberto Carlos, 1968
  61. Tim Maia, Tim Maia, 1973
  62. Bebadosamba, Paulinho da Viola, 1996
  63. Ao vivo no Teatro João Caetano, Elizeth Cardoso,  Jacob do Bandolim e Zimbo Trio, 1968
  64. Todos os olhos, Tom Zé, 1973
  65. Carlos,  Erasmo, Erasmo Carlos, 1971
  66. Psicoacústica, Ira!, 1988
  67. Revolver, Walter Franco, 1975
  68. O Som, Meirelles e Os Copa 5, 1964
  69. Ronnie Von, Ronnie Von, 1969
  70. Olho de Peixe, Lenine e Marcos Suzano, 1983
  71. Bloco do eu sozinho, Los Hermanos, 2001
  72. Samba Raro, Max de Castro, 1999
  73. Brasil, João Gilberto,  Caetano Veloso,  Gilberto Gil e Maria Bethânia, 1981
  74. Caetano Veloso, Caetano Veloso, 1969
  75. Estrangeiro, Caetano Veloso, 1989
  76. Chico Buarque, Chico Buarque, 1978
  77. Chico Buarque de Hollanda vol. 2, Chico Buarque, 1967
  78. Antonio Brasileiro Jobim, Tom Jobim, 1994
  79. The composer of desafinado plays, Tom Jobim, 1963
  80. Força Bruta, Jorge Ben, 1970
  81. Jorge Bem, Jorge Ben, 1969
  82. Refavela, Gilberto Gil, 1977
  83. Roberto Carlos, Roberto Carlos, 1972
  84. Roberto Carlos, Roberto Carlos, 1969
  85. Tim Maia, Tim Maia, 1981
  86. Elis, Elis Regina, 1973
  87. Foi um rio que passou em minha vida, Paulinho da Viola, 1970
  88. Fala Mangueira, Cartola,  Carlos Cachaça,  Clementina de Jesus,  Nelson Cavaquinho e Odete Amaral, 1968
  89. Dança da solidão, Paulinho da Viola, 1972
  90. A voz,  o violão,  a música de Djavan, Djavan, 1976
  91. A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado, Mutantes, 1970
  92. Canção do Amor Demais, Elizeth Cardoso, 1958
  93. Clementina de Jesus, Clementina de Jesus, 1966
  94. Circense, Egberto Gismonti, 1980
  95. Tempos Modernos, Lulu Santos, 1982
  96. Baterista: Wilson das Neves, Elza Soares, 1968
  97. Quem é Quem, João Donato, 1973
  98. A peleja do Diabo com o Dono do Céu, Zé Ramalho, 1979
  99. Marina Lima, Marina Lima, 1991
  100. Markú, Markú Ribas, 1973